O primeiro zoo dedicado à vida selvagem portuguesa nasceu, em Miranda do Corvo, há dois meses. É o grande atractivo do Parque Biológico da Serra da Lousã, que cultiva duas coisas: o amor pela natureza e a integração social.
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As lontras correm e brincam, indiferentes à presença dos fotógrafos reunidos no "I Safari Fotográfico". Têm vizinhos tão diferentes como gamos, raposas, javalis, veados, garranos, milhafres-pretos ou sacarrabos. Moram todos no Parque Biológico da Serra da Lousã, espaço multifacetado, que se desenvolve ao longo de oito hectares, na Quinta da Paiva. As crianças são o público mais assíduo, e a vertente pedagógica não é descurada. Relembra-se o perigo da extinção das espécies, que já paira sobre alguns dos animais ali alojados (é o caso do burro doméstico ou da ovelha Churra Badana).
Mais: "Tentamos desmistificar a ideia de que o javali ou o lobo são maus, por isso temos de matá-los", conta o técnico de Turismo João Baptista. Uma das metas da Fundação ADFP - Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional, que detém o Parque, é, precisamente, vir a albergar um lobo e um lince. O presidente, Jaime Ramos, acredita que tal seria uma mais-valia para o país.
"Não queremos ser mais um zoo. Queremos ter aqui uma mostra significativa da vida selvagem em Portugal, dos nossos vizinhos, que muitas vezes não vemos", sublinha. Nos planos está, ainda, o alargarmento da colecção de aves e peixes.
Mas o Parque Biológico não vive só de animais selvagens. Também inclui uma quinta pedagógica que reúne as espécies autóctones da agropastorícia tradicional, três oficinas de artes e ofícios antigos (Tapeçaria, Olaria, Vime/Mobiliário) - e uma loja para onde são canalizados esses e outros produtos.
O espaço tem, ainda, outra particularidade: 90% do trabalho é feito por pessoas com deficiência, doença mental ou alvo de exclusão social. Limpam, tratam dos animais, são monitoras... Foi, justamente, para "criar emprego e actividades ocupacionais para pessoas vítimas de exclusão" que se concebeu o projecto, explica Jaime Ramos. Porque "a ligação à natureza é extremamente importante, sobretudo para os doentes mentais".
Juventino França, monitor da oficina de Olaria, não duvida de que essas pessoas recolhem "óptimos benefícios" da sua passagem por ali. E assume: "Também teria sido mais difícil para mim arranjar trabalho lá fora". Juventino nasceu com uma doença que lhe deformou o esqueleto. "Mas nunca me impediu de fazer uma vida normal", assinala, bem disposto.
O Parque Biológico da Serra da Lousã abriu em Junho e, no fim do mês seguinte, contabilizava 2600 visitas. Jaime Ramos espera chegar às 30 mil anuais. Ainda assim, já houve algumas imprevistas: "Apareceram-nos javalis a estragar a vedação para entrar", recorda o presidente da Fundação ADFP, entre risos.