Seguia a 190 km/hora e num carro roubado ao patrão o homem que, na terça-feira à noite, matou dois GNR, na A23, em Belmonte. Por apurar está se o pastor perdeu o controlo da viatura ou se provocou a colisão.
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A GNR não confirma o dado oficialmente mas, ao que o JN apurou, era essa a velocidade marcada no velocímetro da carrinha Mercedes que abalroou o carro da Brigada de Trânsito (BT) da GNR, matando dois militares e ferindo um terceiro. O homem que causou o acidente, de 34 anos, também ficou ferido com gravidade.
Os dois feridos estão ambos internados nos hospitais da Universidade de Coimbra. O pastor que conduzia a carrinha tem prognóstico reservado e está entre a vida e a morte. Já o único militar sobrevivente "sofreu um traumatismo craniano e fraturas nas duas pernas, mas está estável", disse, ao JN, o tenente-coronel Cunha Rasteiro, do destacamento da GNR da Guarda. "Foi submetido a uma intervenção cirúrgica e já não corre perigo de vida", acrescentou.
O cabo Cruz, 33 anos, e o guarda Barrancos, 32 anos, tiveram morte imediata, tamanha a violência da colisão.
Tinha sido promovido
Parada na berma da autoestrada, a patrulha da BT vigiava a evolução das chamas de um incêndio que desde o final da tarde de terça-feira consumia mato na localidade de Maçainhas de Belmonte.
Pelos indícios recolhidos pela equipa de investigação criminal da GNR, um dos elementos que fazia o patrulhamento da autoestrada e que acabou por morrer estava fora da viatura. No interior estava o condutor, que também faleceu, e no lugar do "pendura" estava Ricardo Andrade, de 30 anos, que tinha sido recentemente transferido de Trancoso para a Guarda. "O agente estava há uma semana no destacamento fruto de uma promoção a sargento", confirmou Cunha Rasteiro.
Foram todos surpreendidos pelo automobilista que conduzia uma carrinha Mercedes pretensamente roubada. "O proprietário [patrão do condutor] apresentou uma queixa-crime por furto no posto de Foz Côa já depois do acidente", adiantou a mesma fonte. O condutor, que iria para Lisboa, supostamente ter com a namorada, foi submetido ao teste de alcoolemia, cujos resultados ainda não são conhecidos.
Com duas perdas a lamentar, o comando-geral da GNR vai estar representado nas cerimónias fúnebres dos dois militares que se realizam ainda hoje. Primeiro, às 11 horas, no funeral de José Barrancos, em Vilar Formoso, e, mais tarde, às 18 horas, no enterro de Marco Cruz, em Castro Daire.
Localizada a escassos quilómetros da vila de Celorico da Beira, a estação ferroviária da localidade terá sido o único ponto de paragem entre o local de partida e o ponto da A23 onde ocorreu o acidente. Proveniente de Foz Côa, o individuo que conduzia uma carrinha Mercedes de cor escura foi visto por um dos três taxistas que dão serventia aos passageiros da CP. " Eram 20.15 ou 20.20 horas quando deu a volta ao largo da estação e parou junto ao muro em frente, onde permaneceu cerca de 15 minutos, até entrar no café", contou, ao JN, António Bernardo.
"Era baixo, bastante novo e tinha uma aparência descuidada", revelou ainda. Ao entrar no café, soube o JN, tomou um café e um cálice de aguardente, e só quebrou o silêncio para perguntar qual era o melhor caminho para Lisboa, onde tencionava encontrar-se com a namorada.
Os donos do estabelecimento não quiseram falar sobre o tema, mas, segundo informações recolhidas no local, seguiu viagem logo depois. " Só à terceira é que conseguiu arrancar com a carrinha e lá se foi embora, mas aos solavancos", recordou o taxista. " Ou estava bêbado ou não sabia conduzir", concluiu. Como era desconhecido na localidade, moradores e comerciantes de Celorico-gare temeram que fosse " mais um ladrão a apalpar terreno" interessado em assaltar a população.