Em Silvalde, Espinho, as redes voltaram a ser lançadas ao mar, na manhã deste sábado, depois de quatro meses de "defeso". O primeiro lance do ano saldou-se por uns escassos quilos de cavala, nada que desanime os laboriosos homens e mulheres da arte xávega.
Corpo do artigo
Ainda com a linha do horizonte quase impercetível e a luz do novo dia muito ténue já o barco da companha "Rita e Carolina" ultrapassava a primeira rebentação costeira e avançava para águas mais longínquas sob orientação do mestre Manuel "Protestante", naquele que foi o primeiro lance do ano.
Em terra, esperava-se com ansiedade o regresso. O "Lino", proprietário da companha, olhava fixamente o mar, na esperança que este lhe devolvesse finalmente, este ano, o muito investimento que tem vindo a fazer na arte xávega.
Mesmo ao lado, em cima do imponente trator, o "Nando" tinha tudo a postos para puxar as redes.
Nem mesmo Jorge Marinhão, o mecânico, quis faltar a este primeiro dia de grande expectativa. As últimas semanas foram de intenso trabalho para ele na afinação dos motores do barco e na manutenção dos tratores que hoje eram colocados à prova. Nada podia falhar, e não falhou.
Pelas 8.30 horas é tempo de puxar as redes que, ao tocarem a areia, denunciam desde logo o parco resultado do lance.
Sobre os olhares resignados, umas poucas cavalas são rapidamente recolhidas para as caixas e levadas para junto do passeio para ali mesmo serem vendidas.
"O peixe ainda está adormecido", elucidou a peixeira Idália Leitona, confirmando que este primeiro lance "foi fraquinho".
Mas nem mesmo os 83 anos de vida árdua ligada ao mar lhe tiram o otimismo. "Vai ser um ano bom, vai correr bem", vaticina a peixeira garantindo, ainda, que nem a atual pandemia lhe vai prejudicar o negócio.
De expressão mais apreensiva, Adelino Ribeiro, o "Lino", espera que a sua dedicação à arte xávega se traduza, este ano, em algum proveito monetário. "Isto é mais uma paixão do que um negócio. É preciso ajudar os pescadores que dependem disto, mas nem sempre é fácil", explicou.
As quatro "caixas de cavala" deste primeiro dia não compensam a ida ao mar, mas Lino reitera que é necessário insistir e "ajudar" os 13 pescadores que dependem da sua companha.
Haverá mais marés, mais oportunidades. Em Silvalde, os homens e mulheres ligados ao mar não desistem com facilidade.