Avelino, 33 anos, Rego fartou-se da vida no Porto e regressou à atividade em que cresceu na serra do Alvão.
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Quando era pequeno, Avelino Rego ouvia os pais dizerem-lhe: "Meu filho, tu vê lá se estudas para sair desta vida de miséria". A vida era cuidar de ovelhas e vacas em Alvadia, Ribeira de Pena, no topo da serra do Alvão. Fez um curso universitário que lhe deu emprego no Porto. Gostava do que fazia, mas as origens falaram mais alto e regressou à existência de que os pais o quiseram afastar.
Avelino teve a "felicidade" de fazer a escola primária na aldeia serrana onde nasceu. Passava a manhã nas aulas e depois do almoço, que era engolido rapidamente em casa, sobremesa já comida pelo caminho, ia ao encontro de um rebanho de ovelhas. As tardes foram gastas a guardá-las enquanto não foi para o Ciclo, como antigamente se chamava ao 5.º e 6.º anos de escolaridade. "Eu achava graça àquilo. Gostava imenso. Tinha um carneiro que tratava como o meu pónei. Era como uma Disneylândia em que improvisava o meu parque de diversões".
Ele não percebia bem a miséria de que os pais lhe falavam, mas se a vida que lhe desejavam passava por estudar, então que fosse. Formou-se em Engenharia de Sistemas Informáticos na Universidade do Minho, em Braga. Depois trabalhou numa multinacional, no Porto, durante três anos. "Gostava imenso do que fazia. Ainda hoje poderia estar lá e seria uma pessoa realizada e motivada".
Mas o "bichinho da terra" falou mais alto. Lembrou-se das "conversas de café em que se está sempre a reclamar que alguém havia de fazer isto, alguém havia de fazer aquilo". E ele? O que fazia ele pela sua região e pela natureza onde cresceu?
"Quando me caiu a ficha de que os outros não o estavam a fazer e eu também não, isso teve tanto significado para mim que decidi deixar-me de teorias e ir para o terreno fazer algumas das coisas que eu ando a reclamar que os outros façam por mim".
Tomou a decisão no espaço de uma semana e em 2012 acabou por "pendurar o teclado". Voltou à atividade em que nasceu e cresceu e pela qual tem "uma grande paixão". Pegou nas sete vacas maronesas dos pais e hoje tem 30. Pastam ao ar livre no topo da serra do Alvão, 365 dias por ano. Graças a essa vida produzem "carne de ótima qualidade". E ele diz-se "feliz".