A construção de dois esporões em pedra e a colocação de sacos de areias protegem, para já, o emissário submarino da Foz do Arelho. Uma medida urgente que, segundo alguns pescadores, não garante a sobrevivência da praia nem da própria Lagoa de Óbidos.
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Começou de miúdo a acompanhar o pai na faina e recorda nostálgico os dias em que uma hora de "pescaria" na lagoa rendia mais do que hoje um dia inteiro. Fernando Baltazar ou o "Loca", como é conhecido, termina a manhã de trabalho e olha para o que recolheu. Alguns quilos de berbigão e umas quantas santolas, que já têm compradores.
"Ai-Jesus, antigamente nem precisávamos de ancinhos. Em cinco minutos recolhíamos logo 40 ou 50 quilos de amêijoa e berbigão", garante o mariscador, afiançando que, hoje, "temos de passar um dia inteiro na lagoa para conseguirmos apanhar muito quilos e muitas vezes não há".
Puxando dos galões de quem conhece o espaço como ninguém, Fernando "Loca" afiança que "a lagoa é riquíssima", mas o assoreamento "tem-na prejudicado". Apontando para as coroas de areias visíveis, Fernando explica que tanta areia está a estragar a lagoa e revela não compreender "porque ninguém faz nada".
"Em vez de estarem ali a gastar dinheiro a fazer dois pontões, faziam só um, mas maior, assim em direcção ao mar", explica o mariscador que aponta ainda como solução para o problema o desassoreamento da Lagoa. "Se eles não o fizerem, isto vai tudo desaparecer", garante, acrescentando que "a lagoa pode desaparecer e toda a sua riqueza".
"Obra bem feita"
Atentos também às movimentações das máquinas estão alguns dos 200 pescadores/mariscadores que fazem da lagoa da Foz do Arelho a sua sobrevivência. Depois de muita contestação, decidiram dar umas tréguas, já que "foram prometidas obras até Março".
Humberto Gomes admite que a intervenção do Instituto Nacional da Água (INAG) e das Águas do Oeste "está bem feita", já que os esporões de pedra e os sacos de areia, para além de protegerem do avanço do mar o emissário submarino da Foz do Arelho (que encaminha esgotos tratados para alto-mar), protege a marginal onde estão colocados alguns bares e restaurantes.
Mas a grande preocupação de todos centra-se na Aberta (canal que liga a lagoa ao mar) que por força das correntes deslocou-se para norte, reduzindo o areal. "Tem de se fazer uma dragagem na lagoa e colocar a Aberta mais a sul", defendem alguns pescadores e comerciantes, garantindo que "se a Aberta se mantiver neste local, este ano não há praia" e isso "é muito mau para a sobrevivência da Foz do Arelho".
O INAG vai iniciar em Abril as dragagens para fixação da Aberta. O presidente da Câmara de Caldas da Rainha garante que a situação "é dramática" e "coloca em risco a maior lagoa de água salgada da Europa". Para Fernando Costa, "basta uma pequena dragagem e o problema fica resolvido", garante, adiantando que a obra custará "200 ou 300 mil euros".