Quatro anos após o incêndio, foram reflorestados apenas 1644 hectares. Planos de investimento do Ministério do Ambiente abrangem cerca de metade da área ardida.
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Quatro anos depois do incêndio que devastou 86% da área do Pinhal de Leiria, as árvores que pintaram a paisagem de negro foram desaparecendo e deram lugar a uma paisagem a perder de vista, onde se vê praticamente apenas vegetação rasteira e pequenas manchas de pinheiros queimados. Quem olha à volta vê o fantasma do que aquela mata nacional já foi.
As chamas chegaram a Vieira de Leiria e à praia da Vieira, na Marinha Grande, e provocaram estragos em habitações e em bens. Contudo, o Programa de Apoio à Reconstrução de Habitação Permanente (PARHP), gerido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), aprovou apenas uma das cinco candidaturas apresentadas por habitantes do concelho.
A única aprovada recebeu 2 510,97 euros para apetrechamento da habitação, mas as restantes quatro, que apresentaram prejuízos totais no valor de 130 121,15 euros, não tiveram direito a ajuda, porque não tinham enquadramento no PARHP. Embora se desconheça por que foram chumbadas, a CCDRC identifica os principais motivos para a recusa dos 492 pedidos de apoio na Região Centro, no documento "Reerguer dos incêndios".
Razões de recusa
Além de haver casas que não eram usadas de forma permanente, não estavam legais ou não se podiam legalizar, a CCDCR identificou imóveis que já estavam devolutos à data do incêndio, casos de famílias que receberam indemnizações de seguros que não declararam ao PARHP e falta de documentação. Após as suspeitas de uso indevido de apoios concedidos às vítimas do incêndio de Pedrógão, ocorrido três meses antes, a CCTRC criou um formulário no site para denunciar irregularidades. Quanto ao processo de reflorestação do Pinhal de Leiria, o Ministério do Ambiente aponta para a reflorestação de 2522 hectares de área ardida, entre 2019 e 2022, num investimento superior a dois milhões de euros. Até ao momento, foram executados 1644 hectares, e prevê-se que 878 hectares estejam concluídos em abril próximo. Entre 2022 e 2024, o ministério prevê a rearborização de mais 2177 hectares ardidos, o que implicará um investimento de mais 1,9 milhões.
Feitas as contas, os dois planos incluem apenas a reflorestação de 4699 dos 9498 hectares ardidos. Fonte do ministério assegura que, após 2024, serão rearborizados mais hectares do Pinhal de Leiria, embora não na totalidade, tendo em conta que existe a expectativa de que ocorra um processo de reflorestação natural. A área total das matas nacionais, antes do incêndio de 2027, era de 11 021 hectares.
"Leslie" agrava
Um ano após o incêndio, o furacão Leslie contribuiu para agravar ainda mais a situação, já de si devastadora, ao derrubar centenas de árvores do Pinhal de Leiria, numa área de 1100 hectares, correspondente a 10% da área total.
Contra invasoras
Para controlar as plantas invasoras lenhosas o Ministério do Ambiente vai investir 288 mil euros, em 2022 e 2023, e para controlar os agentes bióticos nocivos 220 mil euros, entre 2022 e 2025.
Outras intervenções
Na beneficiação da rede viária o Governo pretende aplicar 470 mil euros e na melhoria das condições de visitação e restauro de habitats cerca de 283 mil euros.