<p>Na Nazaré, a maior parte dos que vivem junto ao mar não conseguiram dormir durante a madrugada de ontem, com medo do avanço da água, que na noite anterior galgou a marginal, invadiu lojas e restaurantes e ruas, danificou carros e deixou um amontoado de areia nas ruas.</p>
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"Ai menina, nem queira saber. Estou tão cansada.... Não preguei olho toda a noite". Aos 82 anos, Maria Carolina Galega Esgaio ainda olha o mar desconfiada, apesar de "conhecer bem as manhas dele". Depois das águas terem invadido o seu restaurante - o Aleluia -, localizado na Avenida Marginal, mesmo em frente ao mar, Carolina não mais descansou.
"Ontem [anteontem] começou a subir, a subir até que as ondas entraram por aqui adentro e partiram ali os vidros", aponta a idosa para a porta do estabelecimento, recordando as horas de aflição que viveu ao final da tarde. "As ondas estavam grandes, mas não estávamos à espera que subisse tanto", disse. "Olhe, estava aqui um carro que foi arrastado rua acima", vai contando Maria Carolina, enquanto aponta para a Rua da Graça, localizada mesmo ao lado do seu restaurante.
Entre esta via e a Rua dos Lavradores, na Avenida Marginal, localiza-se uma loja de produtos chineses. "Boa Sorte" é a placa colocada em cima do espaço que foi destruído pelas ondas gigantes que, na tarde de anteontem, invadiram a Nazaré. Os vidros das montras foram partidos pela força das águas e derrubou prateleiras e manequins. O espaço esteve guardado durante a noite por agentes da PSP, mas ao início da madrugada, um dos proprietários esteve no local. Olhou desolado para o interior da loja, meteu as mãos nos bolsos e fixou o mar sem tecer qualquer tipo de comentário.
Apesar de muitos admitirem que não dormiram na última noite, já que o pico da maré ocorreu por volta das 5 horas, as ruas da vila piscatória mantiveram-se desertas até ao nascer do dia. Um pequeno troço de 400 metros esteve cortado ao trânsito, devido às areias depositadas no alcatrão, até por volta das 7. 15 horas, ocasião em que os funcionários da Câmara começaram as operações de limpeza.
"O mar já caiu e agora não haverá perigo", assegura Emídio Silva, o responsável pela limpeza da Nazaré, revelando que a marginal "tem de estar limpinha, porque no domingo temos cá a maratona".
Durante a manhã, 12 funcionários, auxiliados por dois tractores, limparam a marginal, enquanto uma máquina de maior porte reabria a vala criada entre o paredão e o areal. "As ondas, hoje [ontem], estão com quatro metros, mas ontem [anteontem] já estiveram a oito", justifica Emídio.
E se para muitos a forte ondulação é sinal de prejuízos para outros é sinal de divertimento. Um grupo de surfistas, liderado pelo campeão nacional Tiago Pires, trocou as ondas da praia do Norte pelas da Nazaré. Ao final da manhã e apesar da maré estar a baixar, muitos deles ainda conseguiram "apanhar" a onda, e "voar" nas pranchas até ao limite.