Túnel hidráulico para desviar rio da Vila, no Porto, terá 536 metros e fica pronto em setembro. Trabalhos avançam no Largo de S. Domingos e na Praça da Liberdade.
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Luz ao fundo do túnel ainda não há. Só quando o (novo) caminho do rio da Vila estiver pronto. Parte desse ribeiro, que nasce no centro do Porto e desagua no Douro, está a ser desviado por um túnel hidráulico com uma extensão total de 536 metros. A infraestrutura está em construção pela Metro do Porto e viabilizará a obra da Linha Rosa, nomeadamente a da estação da Liberdade/S. Bento, que intercetava o rio. A estação nascerá, agora, por cima do túnel, que estará pronto em setembro.
Os dois extremos do canal, com cerca de seis metros de diâmetro, já estão abertos e à entrada, Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros, dá as boas-vindas: no centro da Praça da Liberdade e no Largo de S. Domingos. É neste último ponto onde os trabalhos de uma obra que ficará "para mais de 100 anos" estão mais avançados. Ali, a empreitada começou a 13 de junho e essa parte do túnel conta já com uma extensão que ronda os 160 metros, acompanhando o subsolo da Rua das Flores, a 17 metros de profundidade.
O ruído da ventilação e da máquina de injeção de cimento ao fundo ecoa pelo túnel. A humidade assemelha-se à de um clima tropical, mas não se vê um raio do sol que brilha lá fora. Do teto curvo caem gotas de água, resultado da condensação, e o lamaçal de cimento forma um pântano cinzento, quase que imitando areia movediça.
"Aqui [no Largo de S. Domingos] torna-se mais fácil porque estamos a fazer a escavação de uma forma horizontal. Temos alguma pendente, necessária ao escoamento de águas, e a abertura é mais simples. Lá em cima [na Praça da Liberdade], como temos uma inclinação muito grande, torna-se mais difícil e o avanço é muito mais lento", explica Mónica Fernandes, engenheira de túneis.
Na Praça da Liberdade, para já, contam-se 13 metros de extensão. Mas a profundidade ronda entre os 30 e os 40 metros. Além disso, a obra também arrancou mais tarde em relação aos trabalhos no Largo de S. Domingos: foi a 3 de novembro que as máquinas começaram a escavar naquela extremidade do túnel. E apesar da chuva, os trabalhos "desenvolvem-se da mesma forma".
"Temos alguns condicionalismos porque há um aumento de água a entrar pelos acessos, tendo de ser retirada da frente de obra, e também o maciço rochoso, que satura e provoca-nos dificuldades, depois, na escavação", clarifica Mónica.
Escoamento de águas
Esta será uma obra "para 100 anos", salienta Vasco Nascimento, engenheiro responsável pela estação da Liberdade. "Como vamos construir a estação em frente ao hotel do Palácio das Cardosas, precisávamos de intercetar as galerias antigas do rio da Vila e, para isso, resolveu-se fazer um túnel hidráulico que intercetasse as águas todas e entrasse na Rua de Mouzinho da Silveira para desaguar no rio Douro", descreve.
Apesar de tudo, as duas obras decorrem ao mesmo tempo. "Na zona da estação da Liberdade, este túnel passará por baixo, por isso conseguimos realizar os trabalhos faseados, mas em simultâneo", acrescenta a engenheira de túneis. Mas a vantagem desta infraestrutura não se resumirá à construção da nova estação da Linha Rosa do metro. "No que toca ao escoamento de águas, as galerias existentes eram muito antigas, tinham alguns problemas e esta obra até ajudou, nesse sentido, a escoar as águas da cidade do Porto. O túnel garante-nos uma estrutura nova e pensada para receber todas as águas que desaguam no centro da cidade e creio que, para a população, também é uma mais-valia", observa Vasco Nascimento.
Musealização da galeria
Toda a obra foi articulada com a Câmara do Porto, a propósito da construção da "Musealização da galeria do rio da Vila". O objetivo do município é transformar o entubado curso de água numa estrutura museológica subterrânea, em particular no troço entre a estação de S. Bento e o Largo de S. Domingos, com uma extensão de 350 metros. Esta galeria em particular, explicou, à data, a Câmara do Porto, apresenta dimensões suficientes para permitir a visita confortável do público, sendo, ainda assim, necessário adaptá-la à circulação de pessoas. Previa-se que a entrada no museu fosse através da estação de metro de S. Bento.
A empreitada arrancou em outubro de 2018, mas foi, entretanto, suspensa, por "incumprimento contratual" do empreiteiro. Ao JN, em março de 2021, a Câmara do Porto adiantou que a obra tinha parado e que a Águas e Energia do Porto tinha tomado posse administrativa da empreitada, prevendo-se o lançamento de novo concurso público.
Metro prevê lançar concurso para Linha Rubi a 17 de março
Ligará a Casa da Música, no Porto, a Santo Ovídio, em Gaia, e obrigará à construção de uma nova ponte sobre o Douro. A Metro do Porto prevê lançar o concurso público para a Linha Rubi a 17 de março, estando a disponibilizar algumas informações aos concorrentes interessados para encurtar o prazo de apresentação de propostas. A nova linha, financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, custará 299 milhões de euros, incluindo a nova ponte. Terá três estações à superfície (Arrábida, Candal e Rotunda) e cinco subterrâneas (Casa da Música, Campo Alegre, Devesas, Soares dos Reis e Santo Ovídio).
Pormenores
Três turnos diários
"Os avanços dependem muito da característica do terreno, mas normalmente avançamos cerca de quatro ou cinco metros por dia", nota Vasco Nascimento. São cumpridos três turnos diários, num total de 24 horas.
Linha Rosa
As previsões iniciais apontavam o final de 2024 como a data para a conclusão da construção da Linha Rosa. As dificuldades dilataram os prazos, pelo que só a partir de meados de 2025 começarão a ser fechadas as frentes de obra.
Santa Bárbara
Em todas as frentes de obra para construção da nova Linha Rosa do metro do Porto, Santa Bárbara (na foto) está à entrada dos túneis. A padroeira dos mineiros garante, assim, a proteção dos trabalhadores durante a empreitada.