Câmara portuense quer evitar "cometer erros do passado", plantar mais e encontrar locais onde espécies tenham espaço para crescer. Plano é divulgado na Biblioteca Almeida Garrett. Em Matosinhos, equipa faz inventário dos exemplares existentes. Trabalho já motivou podas e abates necessários. Diagnóstico no concelho deverá estar concluído dentro de dois anos.
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É a norte do Centro Histórico onde mais faltam árvores no Porto. Essa é uma zona "particularmente sensível" e faz parte das prioridades do plano de arborização das ruas do concelho, apresentado hoje, às 14.30 horas, na Biblioteca Almeida Garrett. O resultado é fruto de um ano de trabalho de uma "equipa multidisciplinar", nota o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, que contou com a participação do arquiteto paisagista Paulo Farinha Marques, mas também especialistas em climatologia. O objetivo é arborizar as ruas "de uma forma lógica e sustentável", diz o arquiteto, descrevendo o plano como "um contributo interessante".
Para Filipe Araújo, o plano permitirá "não cometer erros do passado". Isto porque, observa, há locais onde as árvores não foram "propriamente bem plantadas" ou não têm "espaço para crescer". Ou seja, trata-se de um conjunto de linhas condutoras que permitirão ao Município, sempre que fizer uma intervenção na via pública, "estar atento à largura da rua e às dimensões", e, perante esses dados, adequar as espécies a plantar. Não está definido, por isso, um horizonte temporal para realizar estas medidas nem o número de árvores a plantar.
Floreiras "temporárias"
A Rua de Álvares Cabral, perpendicular à Praça da República, é "uma rua que pressupunha ter árvores, dada a sua dimensão", refere o autarca. Na última intervenção, nasceu uma série de floreiras nos passeios com árvores plantadas. Sobre isso, Filipe Araújo explica tratar-se de "uma solução temporária". "Porque o nível de infraestruturas no solo era tão grande que não dava para abrir e plantá-las no solo", justifica o autarca.
Quando houver "uma intervenção mais de fundo", acrescenta, "passamos as árvores das floreiras para o chão". Será esta a ação do Município em casos semelhantes, mas "sempre que uma rua permitir colocar árvores, colocamos".
Esta necessidade, reforça o vice-presidente da Câmara do Porto, prende-se com o facto de os exemplares serem capazes de "suster muito vento", mas também "são importantes em certas fachadas para conforto térmico". "Em determinadas zonas onde possa haver maior degradação da qualidade do ar, as árvores podem e devem ser plantadas para nos ajudar nesse sentido e também são um excelente elemento de ajuda a prevenir inundações porque abranda a velocidade a que água chega ao solo", insiste Filipe Araújo.
Pode ser já implementado
"O plano contempla modelos de arborização por toda a cidade e para todo o tipo de ruas, dando exemplos de caso de estudo. Está em condições de ser implementado e, se começarem agora, muitas ruas podem ser intervencionadas. Este trabalho permite que, nos próximos 20 ou 30 anos consigamos aumentar de forma muito significativa as árvores na rua", analisa Paulo Farinha Marques.
O arquiteto clarifica que "todo o plano é pensado para tentar dar resposta às situações onde há muito pouco espaço público". Certo é que "não é difícil dobrarmos o número de árvores", atira o arquiteto paisagista.
Fazem exames às espécies e calculam CO2 já captado
Equipa de académicos de Vila Real está a fazer o inventário arbóreo do concelho. Em Leça da Palmeira, todo o arvoredo foi já analisado.
Cada uma das tílias da Avenida Dom Afonso Henriques, em Matosinhos, muito perto do edifício da Câmara, pode ter já captado todo o dióxido de carbono (CO2) correspondente a uma viagem de dois mil quilómetros de carro. Por estes dias, são elas o instrumento de trabalho da equipa Treeplus, formada por académicos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), os responsáveis pela elaboração do inventário arbóreo do concelho. Em Leça da Palmeira, o diagnóstico está feito (são mais de três mil árvores). Estima-se que, no concelho, existam 30 mil. O inventário deverá estar pronto em 2025.
É Luís Martins, professor de Ciências Florestais na UTAD há 30 anos, quem lidera os trabalhos. E para fazer um diagnóstico completo de cada uma das árvores, é preciso cumprir uma série de etapas: medir o perímetro do tronco, da copa, a altura da árvore, definir a sua localização por GPS, etc. É através destes números que a equipa consegue estabelecer uma relação com a potencial captação de dióxido de carbono. Se todos estes indicadores visuais permitirem concluir que o exemplar não está doente, a equipa segue para a árvore seguinte. Todas têm já um QR code associado (um identificador) mas, para já, as informações ainda não estão atualizadas.
Ecografia à árvore
Se, pelo contrário, houver dúvidas quando ao estado de saúde da árvore, recorre-se ao "Arbotom". É um equipamento semelhante ao de uma ecografia, explica Isabel Lufinha, da unidade de parques e jardins do Município. E foi isso que aconteceu numa árvore mais à frente, no Jardim Basílio Teles, junto aos Paços do Concelho, com uma fenda "feia" no tronco. Luís e Diego Carvalho, arquiteto paisagista, não perdem tempo e vão ao carro buscar o equipamento. Chegam com duas malas. Numa, estão os sensores a afixar nas árvores e os respetivos cabos. Noutra, o computador. À medida que Diego coloca os oito sensores à volta do tronco, Luís vai ligando o computador e abre o software que recebe a informação. Em cada um dos sensores, Diego bate várias vezes com um martelo. No computador, começa a aparecer uma circunferência irregular muito semelhante ao tronco da árvore. No meio, uma mancha vermelha: "Uma ligeira lesão", diagnostica Luís.
Este trabalho dará origem a uma base de dados com informação sobre todo o arvoredo. Entretanto, procedeu-se a abates e podas necessárias. "Com o levantamento feito do arvoredo em Leça da Palmeira, já fizemos todas as intervenções mais prioritárias e urgentes", acrescentou Isabel.
No final, todos estes dados estarão carregados numa plataforma geográfica de gestão municipal, que dirá "qual o estado de cada árvore".