Pelas ruas da Vitória, no Porto, ecoam críticas e muitas reservas quanto à colocação de lombas em algumas artérias, já que, por ali, "não há movimento". Em causa está a implementação da "Rede 20", que a Câmara do Porto apresentou nesta manhã de terça-feira.
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José Marcos embrulha-se em pensamentos enquanto olha para a almofada azul de redução de velocidade instalada à entrada da Rua de São Bento da Vitória. Pintada na calçada portuguesa está a indicação do limite máximo de circulação de 20 quilómetros por hora, mas o portuense, de 60 anos, diz não entender "o significado de lombas em ruas que não têm movimento".
As críticas surgiram depois de o Executivo da Câmara do Porto ter visitado as ruas da freguesia onde está instalada a nova sinalética da "Rede 20", com medidas para a redução de velocidade. O objetivo é, diz o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, "limitar o interesse que os automobilistas têm em entrar nestas zonas". A intenção é que peões, bicicletas e trotinetas possam partilhar a estrada.
Há nove ruas na Vitória que estão designadas como "zona residencial ou de coexistência". Ao mesmo tempo, o estacionamento está também reservado a moradores e a cargas e descargas dos negócios.
Mas à medida que o Executivo passa, a voz de Fernanda Barbosa sobrepõe-se. De braços no ar, as críticas da moradora inundam as ruas. "Não há respeito nenhum. Passaram todos e ninguém olhou para nada", revolta-se, enquanto José Marcos conta os carros estacionados junto ao Largo Amor de Perdição que "não são de moradores".
O grupo de moradores insatisfeitos começa a crescer e a ele junta-se Lucinda Bento, de 85 anos, com negras à volta do nariz. "É a segunda vez que caio aqui", lamenta a idosa, de indicador apontado para a estrada, à entrada da Rua de Trás. O chão, com pedras largas, "é bonito", admite José Marcos, mas "não está nivelado e as pessoas caem". Por isso, também Júlio Pereira, 55 anos, sugere a criação de "um corredor para que se consiga passar com carrinhos de bebé e cadeiras de rodas". E acrescenta: "deviam ter resolvido isto antes".
"Em tempos, quando isto tinha movimento, com a escola e os infantários, justificava-se [a instalação de lombas]", observa José Marcos, comprometendo-se a "perguntar [à Câmara do Porto] para que servem". "Só se for para os turistas", contrapõe.
Há quem sugira, contudo, que as medidas de redução de velocidade estarão relacionadas "com o que se passa aqui à noite". "É só aceleras. Fica tudo cheio de carros", adianta Fernanda.
Recuperar o uso original das ruas
Para o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, o programa implementado a partir desta terça-feira trata-se de "devolver às ruas da cidade o uso que elas tinham antigamente".
Para o autarca, o espaço público nas cidades "está a ser reconquistado pelos cidadãos que não têm automóvel". Aos jornalistas, explica que o Município pretende implementar em zonas como a da Vitória, onde as ruas são mais estreitas, "a possibilidade de partilha".
"Se os motoristas dos automóveis andarem aqui a 20 km/h como vão andar e nós vamos controlar [com a presença da PSP e Polícia Municipal], naturalmente as pessoas vão sentir-se mais à vontade para poderem andar no meio da rua e as bicicletas vão poder circular", acredita o autarca. Até ao final do ano, a Câmara do Porto quer implementar estas alterações em nove quilómetros da cidade, conseguindo atingir os 30 quilómetros em 2026. Nessa altura, 57% dos arruamentos da cidade "vão ser condicionados ao automóvel", acrescentou Pedro Baganha.
Quanto aos moradores, e com o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, Nuno Cruz, à sua esquerda, Moreira afirmou que, "das experiências feitas na Ribeira, a Zona de Acesso Automóvel Condicionado (ZAAC) foi uma solução ótima".