Os dois municípios vão criar o Plano Municipal para a Integração de Migrantes que envolve autarquias, escolas e unidade de saúde.
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Na Póvoa de Varzim serão cerca de 7500 imigrantes, com os brasileiros à cabeça, seguidos de uma cada vez maior comunidade de indianos, nepaleses, paquistaneses e bengalis. Em Vila do Conde, só os indonésios a trabalhar na pesca são já mais de 500. Agora, os dois concelhos uniram-se para delinear um Plano Municipal para a Integração de Migrantes, que vai envolver as duas autarquias, as escolas e a Unidade Local de Saúde (ULS).
“Será uma candidatura conjunta para a elaboração desse plano com vista à melhor integração das nossas comunidades migrantes”, explicou o presidente da Câmara, Aires Pereira, que levou a questão à última reunião do executivo.
Do lado da Póvoa serão gastos quase 117 mil euros. Outro tanto em Vila do Conde. Para já, a ideia é gizar um retrato da situação e delinear medidas de atuação. O plano deverá estar concluído até março de 2025.
Para Aires Pereira é importante integrar. A Póvoa tem atraído migrantes de muitos países e a prova é que, na EB 2,3 de Aver-o-Mar, há alunos de 25 nacionalidades. Até hoje, a imigração não tem trazido problemas e, nos campos agrícolas, na pesca ou no setor da hotelaria e restauração, a mão-de-obra é bem-vinda. Mas o volume de imigrantes é cada vez maior. É importante garantir que “estas pessoas são tratadas como qualquer outro cidadão” e que casos como os de Odemira que, em 2021, fizeram manchetes de jornais com imigrantes a viver às dezenas, sem condições, em autênticas barracas, não se repitam.
Do lado da oposição, João Trocado, do PS, saúda o passo dado pela autarquia poveira e alerta para dois temas que, na ótica dos socialistas, devem estar na lista de prioridades: habitação e integração.
“Na habitação, achamos que a autarquia poderia fazer muito mais no que toca às condições em que estas pessoas são alojadas. Devemos acolhê-las, mas não devemos explorá-las”, frisa, acrescentando que, também do lado da integração, as tradições, a cultura e o desporto “podem beneficiar desta multiculturalidade”.
Aulas de português para os filhos, mas também para os pais (algo que, por exemplo, na Póvoa já existe), um reforço dos gabinetes de acolhimento e de técnicos da área social que possam ajudar estas pessoas a tratar de vistos de residência, procura de emprego ou casa poderão ser algumas das medidas a sair deste plano.
Para já, a candidatura é para o financiamento da elaboração do plano, mas a ideia é que este seja “o primeiro passo para ações concretas concertadas entre os dois municípios”.
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Indonésios sustentam a pesca
Estima-se que, neste momento, só nas Caxinas, em Vila do Conde, vivam e trabalhem na pesca atualmente mais de 500 indonésios. Na maior parte dos barcos são mais de 60% da tripulação. A pesca artesanal admite que, sem eles, muitos barcos seriam obrigados a encostar ao cais por falta de mão-de-obra;
Sem dados concretos nas hortícolas
Na Póvoa de Varzim, há cerca de duas mil explorações agrícolas, que empregam cerca de dez mil pessoas. Abastecem de hortícolas a região e grande parte da Galiza. Tomate, alface, couves, cenoura ou batatas saem quase sempre dali. Não há dados concretos, mas a mão-de-obra da Índia, Nepal, Paquistão e Bangladesh aumenta a cada dia e, em muitas estufas, já é mais de metade dos trabalhadores
Quase 800 mil
No final de 2022 (os últimos dados disponíveis), havia 798 480 estrangeiros a viver em Portugal, um número que duplicou entre 2016 e 2022. Quase 30% eram brasileiros. Seguem-se indianos, cabo-verdianos, ucranianos e nepaleses