Aumento das matérias-primas reduz número de veículos no desfile secular das Cavalhadas de Viseu. Entusiasmo marca regresso do evento que deve atrair milhares às ruas, esta sexta-feira.
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No Pavilhão da Associação das Cavalhadas de Vildemoinhos a azáfama é grande por estes dias. De um lado pinta-se, do outro colam-se flores. Noutro local cortam-se materiais para acabar os carros alegóricos que sairão amanhã, sexta-feira, dia de S. João, às ruas de Viseu em desfile, a partir das nove horas, para fazer cumprir uma tradição com 370 anos.
"Este último mês é muito mais trabalhoso, são muitas horas seguidas para deixar tudo acabado às 9 horas desta sexta-feira", explica Carlos Toipa, um dos construtores dos carros alegóricos, enquanto acaba de preparar uma borboleta num dos veículos que o público poderá apreciar amanhã.
Só Carlos Toipa projetou cinco viaturas que participarão no corso. Uma tem o formato de uma abóbora, outra o de um peixe, e uma outra é dedicada à Amazónia. Tem ainda um veículo dedicado à duendolândia. O carro mais alto, com seis metros, tem como tema os 370 anos do evento.
"O nosso desfile vai fazer jus à história", promete, Carlos Toipa, que ajuda, desde os seus 16 anos, na construção dos veículos que prometem parar Viseu esta sexta-feira.
Na preparação do desfile das Cavalhadas de Vildemoinhos estão envolvidas cerca de 200 pessoas. No corso serão 1000 os participantes. Todos ajudam a fazer o que podem. O trabalho arrancou em março. É feito sobretudo à noite, depois do jantar. Nos dias que antecedem o desfile trabalha-se de dia, de noite e de madrugada, tudo com boa disposição e ao som de música bem alta.
Este ano a preparação do desfile arrancou em março, três meses mais tarde do que o habitual devido à incerteza em torno da pandemia. Ainda assim, todos acreditam que tudo estará pronto a tempo do desfile, que arranca às 9 horas desta sexta-feira e que deverá ter milhares de pessoas na rua para assistirem a uma tradição secular.
A pandemia obrigou ao cancelamento do cortejo dos carros alegóricos nos últimos dois anos. Neste regresso, ninguém esconde a ansiedade, o nervosismo, mas também o entusiasmo. "Em anos normais estamos ansiosos, mas dois anos sem o desfile ainda mais", afirma Carlos Toipa . "Estamos a viver este regresso com muita intensidade", acrescenta Claúdia Ferreira.
"Este ano começamos mais tarde, mas esta adrenalina e ansiedade fazem parte. Se não fosse assim não eram as Cavalhadas", explica, interrompendo o trabalho que está a efetuar num dos dois carros que a Turma do Funil vai levar no cortejo. Este ano o grupo vai apresentar uma casa típica portuguesa e um corvo gigante.
Nesta edição 370, as Cavalhadas de Vildemoinhos saem à rua com 17 carros alegóricos, entre tradicionais e artísticos. Face a 2019, o corso tem menos oito viaturas.
A incerteza quanto à pandemia atrasou a sua construção. O aumento do preço dos materiais utilizados, como o ferro, o papel ou a cola, também teve impacto. "Os materiais tiveram um aumento de 200, 300, 400% e isso impediu que pudéssemos alargar o número de carros. De qualquer forma estamos orgulhosos do cortejo que vamos pôr na rua", refere Anabela Abreu, da organização das Cavalhadas de Vildemoinhos. Segundo esta responsável, cada carro alegórico deve custar uns cinco mil euros. Com o aumento dos preços, os custos reais só serão apurados depois do desfile.
O orçamento das Cavalhadas ronda os 80 mil, entre o desfile e os eventos comemorativos do São João que decorrem até domingo em Vildemoinhos, às portas da cidade de Viseu. O evento tem o apoio da Câmara Municipal, Juntas de Freguesia e de várias empresas.