Confraria não quer perder título de Património Mundial da UNESCO. Necessários cinco milhões de euros para mais obras.
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O Bom Jesus do Monte, em Braga, conseguiu renovar o título da UNESCO, dois anos depois da classificação como Património Mundial, mas a confraria que gere a instância religiosa não esconde a preocupação com a pressão urbanística e o risco de incêndio florestal naquela zona, que podem ameaçar a nomeação.
Até 2025, ano em que terão de voltar a prestar contas, os responsáveis também precisam de procurar financiamento, cerca de cinco milhões de euros, para concluir as obras de reabilitação e criar novas valências.
Atualmente, além dos 26 hectares de área classificada, a estância está protegida por uma zona tampão de 232 hectares, onde não é possível haver mais construção, à exceção daquilo que estava já aprovado antes do Plano Diretor Municipal (PDM) de 2017.
"Estamos preocupados que haja intervenções que não sejam controladas, como construções ilegais ou licenciamentos ilegais. Tudo o que aparecer na zona tampão tem de ter parecer vinculativo da Direção-Geral do Património Cultural, que informa a UNESCO", admite Varico Pereira, vice-presidente da Confraria do Bom Jesus, também a braços com a dificuldade de obter verbas para avançar com a criação do prometido centro interpretativo, a requalificação do bar, a reabilitação do apeadeiro do elevador, o restauro de capelas e melhores acessos e estacionamento. A isto, o responsável soma preocupações "ainda maiores" com o risco de incêndio florestal. Depois do grande fogo de 2017, que quase tocou na paisagem do santuário, Varico Pereira critica os proprietários privados por "não fazerem nada" quanto à limpeza dos terrenos, mas também "a falta de atuação" por parte das autoridades.
Fiscalizar
Miguel Bandeira, vereador do Urbanismo, assume que o Município tem "um papel fundamental no ordenamento do território" e, "até janeiro do próximo ano, no processo de revisão do PDM, a Câmara pode acautelar a especificidade deste valor". "Depois, compete-lhe fiscalizar, acompanhar os licenciamentos aprovados, porque vai ocorrer uma pressão natural da sociedade para transformar aquele espaço", entende o vereador, acrescentando que é preciso olhar para lá da zona-tampão.
"O escadório do Bom Jesus está feito em função das vistas para a cidade. Basta haver um prédio Coutinho, ainda que fora do perímetro visual do Bom Jesus, que pode comprometer o valor daquela paisagem cultural", defende Miguel Bandeira. Sobre a questão do ordenamento da floresta, o responsável está confiante no projeto dos sacromontes, entre Guimarães e Braga.
Retoma
Visitantes voltaram em massa
António Pinheiro é emigrante, mas sempre que vem à terra natal, em Amares, passa pelo Bom Jesus. Diz que gosta do "ar fresco, de apreciar os jardins, de ir à missa e dar uma volta de barco". Alcina Sousa e o marido Fabien Malterre, de Braga, sobem o escadório duas a três vezes por semana, para fazer exercício. Pedro Alegre, alentejano a viver em Barcelona, decidiu incluir a instância no seu roteiro de férias este verão. Os motivos para visitar o Bom Jesus são variados, mas certo é que, desde que o calor chegou, a estância tem estado cheia de pessoas.
A retoma do turismo anima os responsáveis da Confraria que, no último ano, estimam ter recebido 900 mil visitantes, quando em 2019, ano da classificação da UNESCO, foram 1,3 milhões. Varico Pereira admite que a enchente dos últimos dias se deve "ao mercado nacional, emigrantes e espanhóis" e a perspetiva é que o número de visitantes se reduza em setembro, por falta de turismo internacional.