Quatro anos depois de ter sido criada a primeira "sala de aulas do futuro", existem cerca de 50 espaços inovadores espalhados por escolas de todo o país onde os alunos são incentivados a usar os telemóveis e a pesquisar online para cumprir as tarefas que lhes são pedidas pelos professores.
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Os resultados são animadores. Até ao fim do ano letivo, o número deverá atingir a centena, muitas financiadas pelas comunidades intermunicipais (CIM), antecipa o Ministério da Educação.
O primeiro ambiente inovador de aprendizagem, inspirado num modelo futurista europeu, foi instalado há quatro anos na Escola Secundária D. Manuel Martins (Setúbal) e já está a dar frutos, com reflexos positivos nos resultados escolares alunos.
"O primeiro ano letivo (2014/15) foi de adaptação e formação de professores", conta ao JN Carlos Cunha, responsável pela instalação da sala. No ano seguinte, os alunos já usufruíram da sala e as taxas de reprovação baixaram nos 8.º e 9.º anos, os que mais beneficiam do equipamento.
Taxa de chumbos caiu
Na plataforma Infoescolas do Ministério da Educação, os dados relativos ao ano 2015/2016 (último disponível) mostram que a taxa de chumbos caiu dos 28% para os 11% no 8.º ano e dos 20% para os 6% no 9.º - resultado abaixo da nacional (9%), o que antes não acontecia.
Clemência Funenga, diretora, conclui que "a sala foi uma boa aposta para a escola" e atribui os resultados não só a sala, mas também aos docentes que "dela tiraram conhecimento para aplicar nas salas de aula tradicionais". Todos os equipamentos foram conseguidos gratuitamente junto de várias marcas, num esforço realizado pelo professor Carlos Cunha. Sem isso, o orçamento seria de vários milhares de euros.
Falta WiFi e computadores
Para as escolas que não têm possibilidade de fazer este investimento, existem, desde há três anos, workshops para professores que queiram aplicar as tecnologias de informação numa sala de aula convencional, improvisando com os meios disponíveis. O Ministério da Educação e a European Schoolnet, onde foi criada a sala, lançaram a iniciativa "Laboratórios de Aprendizagem".
Nas duas primeiras edições do curso online de 25 horas, 470 professores foram certificados e ganharam novas competências para "criar, adaptar e implementar cenários inovadores de ensino e de aprendizagem", um dos objetivos da iniciativa.
Ouvido pelo JN, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, lembra, contudo, que "mais do que equipamento de vanguarda, as escolas precisam de salas de aula com redes wifi fiáveis e computadores e tablets que não sejam obsoletos".
Ponte de Lima: A sala "caótica" que está a mudar os alunos
A sala tem uma porta de vidro. É um pormenor que representa bem a abertura ao mundo e ao novo conceito de aprendizagem que contrasta com as aulas expositivas e faz do aluno um agente ativo no processo.
Em Freixo, Ponte de Lima, os alunos da escola básica contam os dias para terem uma aula no Espaço de Aprendizagem Personalizada (EAP), mais conhecida por "sala do futuro". O aparente caos que se vê quando entram na sala - sentam-se desalinhados ou começam a trabalhar em pé -, depressa se transforma numa dinâmica de grupo que os leva naturalmente a estar atentos e sem conversas paralelas.
Aberta há quase dois anos, "o que mais se vê nesta sala são os equipamentos e o espaço, mas o que está por trás disso é que é importante porque é uma alteração profunda de metodologias", salientou Luís Fernandes, diretor do Agrupamento de Freixo, indicando que o espaço permite trabalhar competências que a sala convencional não permite. "O professor não se limita a expor as matérias e o aluno pode ser mais ativo nas aprendizagens, colaborar, trabalhar em par ou grupo, e desenvolver competências de colaboração, criatividade e resolução de problemas reais", acrescentou.
Após desenhar uma molécula de dióxido de carbono no "paint 3D", Ricardo Alves, 13 anos, teve a ideia de "pousar" a imagem virtualmente em cima de um extintor existente na sala e facilmente conseguiu concluir o exercício e transmiti-lo em direto para a turma. "Adoro esta sala, porque é a mais avançada da escola", disse. "Os alunos se tiverem que aprender por si e ensinar os outros, vão aprender muito mais significativamente", reiterou o diretor.
Com esta alteração, os resultados podem não ser imediatos nem mensuráveis a curto prazo. Contudo, percebe-se que os alunos ganham novas competências e mudam de atitude. "O que se está a desenvolver nesta sala tem tido impacto na forma de trabalhar nas outras salas", diz Luís Fernandes, vincando, contudo, que não é por causa deste espaço que se está a melhorar tudo na escola. "O mais fácil é fazer a sala e equipá-la. O difícil é saber aproveitar todas as suas potencialidades e isso demora tempo", sublinhou.