Estava prevista para o mês passado, mas processo ainda não está concluído. Vereador que tutelava o projeto não conseguiu ser eleito nas autárquicas.
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O Porto continua sem ter uma sala de consumo de droga assistido. A abertura do primeiro equipamento do género na cidade estava previsto para o mês passado, mas o processo continua por concluir, mais de um ano depois de assinado o acordo para a criação desta resposta. As propostas para gerir o espaço ainda estão a ser analisadas, referiu a Câmara. Entretanto, o tráfico e o consumo de droga proliferam em algumas zonas da cidade, sobretudo junto aos bairros municipais, com toxicodependentes a consumir à frente de quem circula na via pública.
Paulo "Careca" é consumidor desde 1975. "Em 78, fui a Marrocos para ver se a erva deles era melhor do que a daqui", recorda, afirmando-se cansado de décadas de dependência. Tem 63 anos e, de sorriso aberto, confessa que já não acredita que a sala vai ser criada. Está nas escadas de acesso do Bairro das Condominhas à Rua de Diogo Botelho. "O tráfico devia ser legalizado. Só assim é que isto tudo terminava", considera.
Ao lado, sentado no chão e a fumar droga, "Azeitona" - nas palavras de Paulo "Careca" é "o maior larápio da cidade do Porto dos anos 90" - concorda e reclama pela sala há tanto tempo prometida. "Era uma forma de a gente consumir de forma segura e de maneira digna", diz. "Tem algum jeito estarmos aqui a fazer isto à frente de toda a gente que passa? Aqui em cima há um infantário!", acrescenta Paulo. As crianças passam pela mão dos pais. A escassos 20 metros uma moradora do bairro apanha do chão os pinhões das árvores que vão deixando cair pinhas.
júri analisa propostas
Junto aos semáforos que dão acesso ao Bairro da Pasteleira Nova há algazarra. "Azeitona" chega de lá abastecido. Senta-se junto a um jovem casal que se droga debaixo de casacos. Há tendas espalhadas pelo local. Cobertores sob guarda-chuvas onde os toxicodependentes pernoitam. O cenário repete-se noutros bairros da cidade como Viso, Ramalde e Francos. "A malta espalha-se. Aqui na zona do Fluvial já há menos pessoal porque a droga não presta. A gente nem sabe o que está a meter cá para dentro", afirma Paulo "Careca".
Fonte da Câmara explica que, "terminado o prazo de candidaturas para escolha da entidade gestora do Programa de Consumo Vigiado do Município do Porto, as mesmas encontram-se em análise pelo júri designado". Logo que haja decisão do júri, o processo terá que ser submetido para aprovação pelo Executivo, bem como a celebração do contrato de financiamento com a entidade selecionada, que definirá o prazo máximo para o início de funcionamento após a assinatura do contrato.
Previa-se que todo o processo estivesse concluído em setembro, mas a votação na lista de Rui Moreira, que perdeu a maioria absoluta no executivo, não foi suficiente para eleger o vereador Fernando Paulo, que tutelava o projeto, o que, confessa fonte da Autarquia, poderá "atrasar ainda mais o arranque da medida".
PROJETO
Começará por funcionar junto ao muro de Serralves
O espaço onde os toxicodependentes poderão consumir droga com higiene e com acompanhamento médico e de enfermeiros vai funcionar inicialmente numa estrutura móvel a instalar na chamada "Viela dos Mortos", junto ao muro do Parque de Serralves. O projeto será financiado a 100%, no primeiro ano, pela Câmara Municipal do Porto. A verba será de 650 mil euros: 400 mil para custear a parte física (contentor de 90 metros quadrados e respetivos equipamentos), mais 250 mil para a logística de apoio aos toxicodependentes.