Estudante partiu lâmpada com uma bola dentro da sala e foi repreendido. Antes da agressão, ligou ao pai em plena aula.
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O aluno entrou na aula e na brincadeira partiu com uma bola a lâmpada do teto da sala da Escola Básica Francisco Torrinha, no Porto. Foi chamado à atenção pelo professor, mas não gostou de ser admoestado e partiu para a agressão. O docente de 63 anos acabou por ser brutalmente agredido com murros e um pontapé nos testículos. O jovem tem 12 anos e o caso já seguiu para o Ministério Público.
A comunidade escolar -, a escola pertence ao agrupamento Garcia de Orta -, ainda está em choque com o que aconteceu ao final da tarde da passada sexta-feira, há precisamente uma semana. A vítima, Aurélio Terra, professor de Educação Visual e de Educação Cívica, não quer falar da agressão. O mesmo se passa com a Associação de Pais. A escola, na voz do diretor do agrupamento, Rui Fonseca, diz que este "é um caso isolado num estabelecimento escolar tranquilo". O caso foi comunicado à PSP e "seguirá agora os trâmites legais. Internamente foi aberto um inquérito para se apurar as circunstâncias da agressão".
Embora o jovem, aluno do 6.º ano, tenha já "um historial de mau comportamento", nada fazia prever o que aconteceu pelas 17.17 horas, quando Aurélio Terra se encaminhava para a sala de aula n.º 15. Ernesto Pereira, também docente na Francisco Torrinha, ainda tem dificuldades em falar sobre o caso.
"Dou aulas há 37 anos e nesta escola há 30 e nunca pensei que isto pudesse acontecer. Sinto-me perturbado só em relembrar o que aconteceu a este colega", afirmou ao JN Ernesto Pereira, que já foi professor do rapaz, "um aluno que é uma criança que está doente, com grande perturbação e que precisa do apoio das entidades responsáveis".
Insurreição na aula
O aluno partiu a lâmpada com a bola e Aurélio pediu a uma funcionária para varrer os pedaços de vidro, "dada a presença de mercúrio e chumbo", e disse ao aluno que provavelmente teria de pagar a lâmpada. O jovem respondeu que não pagava e, apesar de saber que não podia usar o telemóvel na sala, ligou ao pai. Voltou a brincar com a bola que o professor acabou por lhe retirar, pousando-a em cima da sua secretária.
"Em tom agressivo, o aluno exigiu a bola. O meu colega disse que lha dava no final da aula. Saltando por cima das mesas, tentou chegar à bola e, vendo-se impossibilitado de lhe chegar, começou a empurrar o professor, dando-lhe de seguida murros e pontapé", explica Ernesto Pereira.
Aurélio conseguiu dominar o aluno, encaminhou-o para a porta e entregou-o à diretora de turma. Foi nessa altura que o rapaz avançou e "desferiu um forte pontapé" nos testículos do professor, que caiu no chão cheio de dores, gerando-se o pânico entre os restantes alunos. A aula terminou ali e passados sete minutos, o aluno de 12 anos voltou a agrediu o professor, desferindo-lhe um murro na testa.
O estudante entretanto saiu da sala e, ao passar por um dos funcionários, afirmou: "Já lhe parti o focinho!".
Plenário
O corpo docente e a Direção da escola reuniram-se na quinta-feira ao final da tarde em plenário, onde demonstraram solidariedade com o professor agredido, que exerce a profissão há 43 anos. Também a associação de pais analisou a situação quarta-feira à tarde. A escola está a tentar "lidar com a situação da melhor forma". Ao que tudo indica, o aluno está sinalizado na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.
75% dizem estar em exaustão emocional
Mais de 70% dos professores dão aulas exaustos e 84% desejam aposentar-se antecipadamente. Este é o resultado de um estudo recente sobre desgaste na profissão e que defende a revisão do modelo de gestão das escolas. O trabalho coordenado por Raquel Varela, em parceria com a Federação Nacional de Professores (Fenprof), conclui que 75% dos professores do Ensino Básico e Secundário dão aulas em exaustão emocional. Quase metade apresenta sinais preocupantes e 24% têm sinais críticos ou de extremos de exaustão emocional. A indisciplina é encarada "essencialmente no plano da culpa". Segundo o estudo, "os professores culpabilizam pais, pais culpabilizam professores, diretores culpabilizam professores".