O professor que publica vídeos obscenos no Youtube foi demitido da função pública. Dez meses depois da suspensão, o processo disciplinar está concluído e Manuel Ribeiro não pode voltar a dar aulas. O docente de Economia e Direito, que, em 2021/2022, estava colocado na Escola Secundária Eça de Queirós (ESEQ), na Póvoa de Varzim, queixa-se de uma "decisão fascista e absurda", baseada em "falsidades e preconceitos".
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Manuel Ribeiro é professor do quadro da vizinha Escola Secundária Rocha Peixoto, também na Póvoa de Varzim. A 1 de setembro de 2021, a seu pedido, foi transferido para a ESEQ. As aulas começaram "a sério" a 20. No mesmo dia, a direção da ESEQ foi "bombardeada" com queixas de pais: o professor ter-se-á gabado, na aula, de não ser vacinado contra a covid, lecionou com a máscara no queixo e sugeriu aos alunos que o seguissem no seu canal do Youtube, onde aparece em vários vídeos a dizer frases de cariz sexual, sentado no bidé, nu, a lavar-se e em cuecas em frente ao espelho. O diretor da ESEQ levantou-lhe um processo disciplinar e, três dias depois, o Ministério da Educação suspendeu-o. Entrou, então, em campo a Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC).
Agora, concluído o processo, o Ministério da Educação dá corpo às conclusões da Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) e demite o docente, que nunca mais poderá trabalhar na função pública. Manuel Ribeiro já foi notificado da decisão. Não é passível de recurso, mas ainda assim, escreveu ao ministro da Educação.
"Nada fiz de ilegal e de incorreto. Se esta decisão fascista e absurda não for revogada irei obviamente recorrer aos tribunais", afirmou, ao JN, prometendo lutar pelo seu "direito à liberdade" e por uma indemnização "por todos os prejuízos sofridos".
O docente lembra ainda que tem 35 anos de profissão, 64 de idade, já ensinou "milhares de alunos", em mais de uma dezena de escolas, e defende-se: "o Youtube é um canal privado e só vê quem quer"; "não são vídeos obscenos". São "puras brincadeiras teatrais e musicais"; e garante que só retirava a máscara na sala "por segundos e para poder respirar".
"Tudo o resto insere-se no meu direito à liberdade de informação, de expressão, de ensinar e aprender, de duvidar e questionar e de pensar e ser diferente", remata, defendendo uma escola "livre de preconceitos".
"Prática de ilícitos graves"
A ESEQ diz ter recebido queixas de vários pais, descrevendo "a prática de ilícitos de natureza disciplinar graves". Garante que Manuel Ribeiro tentou mostrar os vídeos na aula e só não conseguiu "por causa das firewals da escola" e que o professor demonstrava "uma atitude negacionista que não pode manifestar em contexto escolar e como professor".
Três processos disciplinares
Entre 2018 e 2021, Manuel Ribeiro enfrentou três processos disciplinares, em outras tantas escolas na Maia e na Póvoa de Varzim, e esteve impedido de lecionar 305 dias. A correr está ainda o da Escola Secundária de Rocha Peixoto, que, em 2020/2021, já a braços com queixas várias, manteve o professor com "horário zero".
Um ano suspenso, mas com salário
Dias depois da suspensão na ESEQ, num vídeo publicado no seu canal do Youtube, o professor explicava os vários processos, justificava-se, atacava os diretores e congratulava-se por, apesar de suspenso, continuar a receber salário.