Reinaldo Rocha não tem dúvidas: o prolongamento do quebra-mar do Porto de Leixões, em Matosinhos, "é uma obra fundamental". Não só para o desenvolvimento da atividade económica, como também para "melhorar as condições de segurança e navegabilidade".
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Piloto há 25 anos, cabe-lhe a tarefa de orientar os navios na entrada e saída de Leixões. Em dias de maior agitação marítima, os mais 300 metros de molhe tornam-se uma ajuda necessária para quebrar a força da onda e aumentar a segurança das manobras. A Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) espera adjudicar a obra já em novembro.
A empreitada, que levantou várias dúvidas e gerou muita contestação, estará em debate esta quarta-feira, na Assembleia da República.
"O grande problema dos navios de maiores dimensões começa fora do porto, quando há ondulação. Estamos a falar de dois, três ou quatro metros de ondulação. A entrada é feita em mar aberto, não é protegida. Muitas vezes, para vencer a entrada temos de dar velocidade aos navios e quanto mais velocidade se dá menos capacidade têm os rebocadores de passar cabo [prender rebocador e navio] para nos auxiliarem na manobra", explicou Reinaldo Rocha.
Hugo Costa, mestre de tráfego local, confirma as dificuldades. Ontem, ao início da manhã, foi o responsável por manobrar um dos rebocadores que auxiliaram a atracar um navio de 170 metros, proveniente de Sines. As "excelentes" condições meteorológicas permitiram as manobras necessárias. Mas nem sempre o mar está de feição. "Os 300 metros fazem-nos falta quando está ondulação e estamos a tentar entrar com o navio. Não existindo, não conseguimos fazer uma abordagem [aproximação] tão boa. Às vezes, é mesmo impossível", relatou.
Capacidade para menos navios
Os estudos para aumentar o molhe começaram há dez anos. Nuno Araújo, presidente do Conselho de Administração da APDL, recorda que, na última década, "a dimensão dos navios a escalar em Leixões aumentou cerca de 77%". "Os navios vão crescendo porque os custos por unidade de tonelada transportada se reduzem substancialmente", explicou. Outrora, o porto teve condições para receber 70% da frota mundial. Atualmente, só para 40%.
"Há diversas companhias que vão solicitando escalar no Porto de Leixões e nós temos vindo a recusar, porque não conseguimos oferecer as condições de segurança que são essenciais para a entrada dos navios. Quem sofre com isto não é necessariamente a administração portuária, mas sim a indústria que se serve do porto. Quando há um navio que quer cá escalar e não consegue, a cadeia logística ajusta-se com muita rapidez e procura um porto vizinho para o fazer. Isso obriga que as empresas que estão nesta região tenham de deslocar os seus produtos para esses portos e subir os custos de transporte e logística", referiu Nuno Araújo.
O projeto para aumentar em 300 metros o quebra-mar teve parecer favorável condicionado da Agência Portuguesa do Ambiente. Entre outras coisas, a APDL teria de realizar um estudo socioeconómico sobre o impacto da obra nos desportos de ondas. O estudo, adjudicado à Universidade Católica, está em curso.
"Surf continuará"
"Há de facto alguns impactos. A onda irá diminuir numa parte da praia, mas isso não irá colocar em causa os desportos de ondas. Acreditamos mesmo que as escolas de surf poderão continuar a trabalhar na Praia Internacional. Terão de se ajustar, porventura, um bocadinho mais para sul, mas estamos atentos", disse Nuno Araújo, reiterando que acredita ser possível manter a atividade portuária e o surf, "que é já uma questão de identidade do próprio território". "O surf continuará a existir em Matosinhos e o porto ganhará uma nova competitividade", frisou.
Detalhes
Simulador
O Porto de Leixões tem há cerca de um ano um simulador que permite o estudo de manobras e navegação em qualquer porto do Mundo com diferentes condições meteorológicas. Custou mais de um milhão de euros e permite o treino e a certificação de pilotos, mestres de rebocadores, oficiais da marinha mercante e de tripulações de embarcações marítimo-turística.
Contentores
A APDL espera que o relatório de impacto ambiental da Agência Portuguesa do Ambiente sobre a reconversão do terminal multiusos seja conhecido ainda este mês. O projeto vai obrigar à reformulação do porto de pesca.