Os pastores e queijeiras da Região Demarcada do Queijo da Serra da Estrela não baixam os braços perante as adversidades que afectam o sector. Ontem, na Feira/Festa de Penalva do Castelo, nem a chuva os impediu de carregar cestas e aliciar a clientela.
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Natércia Martins, de 75 anos, veio de Matança, no vizinho concelho de Fornos de Algodres, disposta a regressar a casa com a cesta vazia e o bolso mais cheio. E foi fazendo pela vida, numa actividade surpreendente, apesar de reconhecer que nem sempre "onde se vê mais povo se vende mais."
"Não faltam aqui pessoas. Mas o certo é que muitos olham o queijinho, perguntam o preço e lá vão à sua vida sem comprarem nada. Também há quem puxe logo pelo dinheiro e compre sem regatear", reconhece a queijeira, que andou toda a manhã de um lado para o outro, num lufa-lufa que dava nas vistas.
Certificação não compensa
O queijo de ovelha não certificado foi vendido entre os 10 e os 15 euros o quilo. Estava, mais uma vez, em maioria na feira de Penalva do Castelo. O que tinha selo a certificar o rigor de todo o processo produtivo, era também vendido à volta dos 15 euros.
"A certificação dá trabalho e custa muito dinheiro e chatice. Obriga-nos a dar voltas e voltas e, feitas as contas, as vantagens são poucas ou nenhumas. Sobretudo quando comparadas com o queijo que sai directo do produtor para o mercado", desabafou um agricultor de Matela.
A questão da certificação foi, de resto, abordada sem rodeios pelo secretário de Estado do Desenvolvimento Rural. Rui Pedro Barreiro é o primeiro a reconhecer que como as coisas estão, é difícil "convencer" os produtores em geral a aderirem ao processo.
"Estamos a criar condições para que a certificação seja uma mais-valia não apenas para quem consome, que tem a certeza de que está a consumir um produto topo de gama, mas também para quem produz".
O governante defende o associativismo entre os pequenos produtores, para garantir escala, e reconhece que é preciso "diferenciar de forma efectiva aqueles produtores que apostam na certificação".
O presidente da Câmara de Penalva do Castelo defende um "entendimento muito forte" entre todas as pessoas ligadas à actividade, desde os agricultores ao Ministério da Agricultura, no pressuposto de que "todos os problemas têm solução".
O autarca sublinha o esforço que tem sido feito no sentido de levar os produtores a licenciarem as suas queijarias. E mostra-se confiante.
"Estou convicto que tem havido um decréscimo de produtores, mas um acréscimo de qualidade", garante Leonídio Monteiro, que sublinha ainda a existência, no seu território, de duas queijarias a produzir em grande escala.