Maia, concelho que é o quinto com mais infetados, avança com projeto para apoiar população mais vulnerável. Pandemia causa alarme entre os seniores. Lares são focos problemáticos.
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Maria Fernanda Guimarães não esconde o medo de viver num dos concelhos com mais infetados pelo novo coronavírus. Tem 70 anos, mora sozinha e não sai de casa há três semanas. O isolamento foi-lhe recomendado pelo médico. Não só pela idade, mas também por uma recente batalha travada contra um cancro da mama. A solidão é colmatada à distância. Com a filha, mata saudades pelo telemóvel. Com a vizinha, conversa nas escadas.
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Na Maia, onde Maria Fernanda reside há mais de seis décadas, há 390 infetados com Covid-19. De acordo com os dados do boletim informativo da Direção-Geral de Saúde, é o quinto concelho do país com mais casos positivos. Os números engordam todos os dias.
Sempre que necessita de medicação, Maria Fernanda Guimarães liga para uma linha de apoio criada pela Câmara. Do outro lado, um funcionário regista o pedido, que posteriormente lhe será entregue ao domicílio. "Quero preservar-me a todo o custo. Não quero arriscar morrer ou infetar outras pessoas. Gostava ainda de conhecer os meus netos", desabafa ao JN.
Bens alimentares
Tal como Maria Fernanda Guimarães, também Manuel Pereira recorre ao apoio municipal, intitulado "Fica em Casa", para abastecer a despensa. Nos dias úteis, saem do Paços do Concelho motoristas para entregar ao domicílio bens alimentares e medicação. Através do 229408642, pode ainda ser solicitada ajuda para passear animais de companhia e acompanhamento psicológico.
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"As pessoas que estão sozinhas, como é o meu caso, precisam muito de apoio. Ouvimos as notícias e há um certo receio. Eu costumava caminhar todos os dias e não estou a conseguir sair de casa", referiu o homem, de 68 anos, que mora perto do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e sofre de alergias. A esposa, revelou Manuel Pereira, está retida na Índia para onde viajou no início de março para fazer uma formação em ioga.
Na Maia, entre os principais focos de contágio estão lares e centros de dia. Há, pelo menos, duas residências seniores com cenários preocupantes. No "Amanhã da Criança", registaram-se duas mortes: um homem de 90 anos e de uma mulher de 89 anos. Há ainda utentes e funcionários infetados. Há uma semana, todos os idosos foram testados e transferidos para um hotel da cidade, enquanto decorria a desinfeção do edifício.
Cenário idêntico verificou-se no CliniCuidados - Apoio Domiciliário e Residência Sénior, com o realojamento temporário dos utentes num hotel para a desinfeção do lar. A instituição tem oito utentes infetados e apenas quatro funcionárias a trabalhar.
Ao domicílio
No centro de dia de S. Pedro Fins, gerido pela Junta de Freguesia, três idosos foram internados em hospitais e duas funcionárias estão a recuperar em casa. De acordo com o presidente da Junta, Alvarinho Sampaio, os restantes 50 utentes estão em casa e são todos os dias contactados pelos funcionários do centro. Alguns deles, sem qualquer retaguarda familiar, recebem refeições ao domicílio.
Escusando-se a avançar números ou revelar qual foi o primeiro caso positivo registado no concelho, a Câmara da Maia pôs em marcha um série de medidas para conter a propagação do novo coronavírus.
Além das ações ligadas à saúde pública, como o reforço da limpeza das ruas e o encerramento de espaços públicos como parques infantis e urbanos, mercados e feiras, foram lançados apoios para os moradores de empreendimentos de habitação social e para o tecido empresarial do concelho.