Nova competição em Braga atinge declive de até 19,2%. Marcaram presença amadores e profissionais, novos e velhos, locais e internacionais.
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Chama-se Rampa da Alegria. No entanto, não é essa a expressão refletida na cara daqueles que este sábado se aventuraram na nova prova de ciclismo da cidade de Braga. Houve os que pararam a meio da subida e continuaram a pé, os que pedalaram a passo de caracol e até os que, com o rosto trancado de concentração, fizeram parecer que a subida era afinal uma descida. “Inclusão” foi a palavra de ordem.
Na primeira edição da Rampa da Alegria, organizada pela Associação de Moradores do Bairro da Alegria (AMBA), eram todos bem-vindos. Dos amadores aos profissionais, dos mais jovens – com a participação de um atleta sub-19 – aos mais velhos e dos locais aos internacionais, foram 28 os ciclistas que, numa média de um minuto, deixaram todo o esforço e suor nos 224 metros de rampa que perfaziam a prova.
De quase três dezenas de atletas, registou-se a presença de duas mulheres. Uma delas foi Sara Costa, vice-presidente da associação Braga Ciclável. Começa por confessar ao JN que a sua presença foi por “imposição”. Não estava confiante num bom resultado, sendo a sua estreia numa prova de ciclismo. No final, voltamos a encontra-la, já de sande na mão, a repor energia. “Não correu tão mal como pensava.” E o que mais importa, diz, ficou garantido: “não faltou diversão, mesmo no duro momento da subida”.
Todo o tipo de roupa
Já Sérgio Duarte, às voltas junto à meta para não arrefecer, mostrava-se mais confiante, apesar do amadorismo no desporto. “Espero pelo menos fazer 50 segundos.” O alegriense – vive na casa junto à baia de partida – de 29 anos, conta ao JN que ainda que o exercício físico seja uma constante no seu dia a dia, da corrida à bicicleta que usa para as deslocações diárias, uma prova é sempre entusiasmante, mesmo que conheça as duas subidas desde criança.
Entre bicicletas que ascendem aos milhares de euros e equipamentos profissionais, há os que se destacam pela indumentária inusitada: ora sobe um de camisa de flanela e calças de ganga, ora segue agora outro de calças de bombazine. Mas nem a falta de licras, roupas aerodinâmicas ou sapatos de encaixe diminuiu a sua conquista, tendo ambos terminado a prova de forma exímia.
Inusitado não é certamente o ambiente vivido – não estivéssemos nós no Minho. Junto à linha de partida, onde mais espectadores se acumulam, há o que não pode falhar em qualquer evento português: o porco no espeto, a cerveja e o vinho. Faltava ainda uma hora para o início da prova e a festa já se ia fazendo à volta das mesas montadas no meio da estrada. Até para apoiar há que garantir que não falta energia.
Urras da janela
Nas três ruas que compõem a Rampa da Alegria – com um desnível de 4%, 19,2% e 18,8%, respetivamente – não faltaram ainda janelas abertas, apoiantes sentados no chão, nos muros e nas bermas do passeio e aplausos. A casa dos alegrienses, este sábado, foi a rua, onde muitos se reuniram. Sendo uma prova de contrarrelógio, partia um ciclista a cada dois minutos. Não era preciso estar na meta para se saber quando alguém tinha partido. Do cimo do bairro, na meta, era possível escutar os urras na rampa inicial.
No final, o melhor tempo (40,49 segundos) foi conseguido por Rúben Carrilho, primeiro classificado na categoria de Master 30. A segunda melhor prova (43,57 segundos) foi conseguida pelo único atleta sub-19, Frederico Dias. Na elite masculina saiu vencedor Rui Ferreira, com 43,64 segundos. Entre as duas atletas femininas, ficou na frente Maria Barros, vinda da Galiza, com um tempo de 1 minuto e 7,74 segundos.
A Rampa da Alegria aconteceu este sábado pela primeira vez, mas a AMBA, organizadora do evento, garante que é para continuar. “Este evento está inserido num programa anual de atividades que incluí formações, rastreios de saúde, aulas de dança e música, entre outros eventos”, começa por explicar Carlos Direito, da direção associativa. “A ideia inicial era ser um pequeno percurso de bicicleta para animar, mas os apoios que conseguimos tornaram possível fazer a prova de ciclismo mais íngreme da zona Norte.” A prova contou com o apoio da Câmara de Braga e da Junta de Freguesia de S. Victor, bem como o suporte da Associação de Ciclismo do Minho e da Federação Portuguesa de Ciclismo.