<p>Está confirmada a saída da "Red Bull" do Norte para a capital. O Turismo de Lisboa anunciou o pagamento de 3,5 milhões de euros só para 2010. Mas Rui Rio e Luís Filipe Menezes não acreditam que a prova algum dia volte ao Porto e a Gaia.</p>
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Sob duras críticas dos presidentes das duas câmaras nortenhas ao envolvimento das empresas participadas pelo Estado e o protesto de outras forças da região, a Associação Turismo de Lisboa (ATL) e a organização da Red Bull Air Race anunciaram, ontem, que celebraram um contrato para a realização de uma prova sobre o rio Tejo, em 2010.
O evento, agora apoiado pelas câmaras de Lisboa e de Oeiras, implica "o pagamento de uma contrapartida à organização no montante de 3,5 milhões de euros". E será alvo de uma candidatura ao Turismo de Portugal, na "expectativa de vir a receber um montante idêntico ao atribuído na última edição", realizada a Norte, assegura a associação, que faz questão de realçar que o contrato "apenas diz respeito a 2010".
Mas, para Rio e Menezes, o facto de o anúncio se limitar ao próximo ano é apenas uma tentativa de calar as vozes críticas, porque dizem não crer que a prova se vá realizar, de forma alternada, a Sul e a Norte. Aliás, o presidente da Câmara do Porto considera que houve "uma certa hipocrisia na reunião", do passado dia 4, entre a organização e estas autarquias.
"Sabiam que as coisas estavam decididas e andaram a brincar com o assunto", criticou, ontem, Rui Rio. "Acredito que estejam a dar a notícia para um ano e que, depois, fique lá por três", acrescentou, certo de que os 3,5 milhões farão parte do pacote de 12 milhões falado para três anos.
Na opinião de Rio, deveria ter sido feito "um intercâmbio". Ou seja, a Red Bull poderia mudar-se para Lisboa mas, em troca, viriam para o Norte "outras iniciativas", explicou, criticando um "país que não tem juízo", pois "não pode desenvolver-se se tudo acontecer na capital". "Não é bonito, nem correcto, nem saudável", resumiu, ressalvando que não culpa as câmaras de Lisboa e Oeiras, mas "a componente de financiamento público ou parapúblico". A propósito, nota que o esforço do Porto e Gaia "era só de 400 mil euros".
Ou seja, "quem financia tem uma palavra muito forte para dizer onde fica", resume o autarca. Questionado sobre se pesou o facto de Gaia e Porto serem lideradas pelo PSD, disse crer que "é mais o forte centralismo".
Num "mercado aberto", Menezes também não responsabiliza a organização ou as câmaras de Lisboa e Oeiras. Esta será financiada com a ajuda dos "compadres do costume", sublinha, voltando a apontar o dedo ao Turismo de Portugal. E "terão de ser as grandes empresas públicas sediadas em Lisboa a pagar". De resto, garante que Porto e Gaia "também estariam disponíveis" para pagar o que a capital e Oeiras vão dar.
Sexta-feira, recorde-se, foi a própria bancada do PS a perguntar ao Governo sobre se há interferência da Galp, EDP e PT/TMN.
Confirmada a decisão, Menezes diz que é algo de "muito mau para o Porto e para Portugal". A Área Metropolitana do Porto já é "o sexto destino turístico do país". E, "um dia destes, haverá a tentação de levar os barcos rabelo e pô-los ao lado dos cacilheiros". Porém, admite que a "culpa também é do Norte", que "não consegue contrariar a lógica centralista". "João Jardim consegue. Se calhar um dia temos que seguir o mesmo caminho", advertiu.
Na mesma linha, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, disse, à Lusa, que o "secretismo" com que a Red Bull decidiu a deslocalização para Lisboa "é uma falta de respeito atroz para a região Norte".
Da sua parte, a ATL diz que, desta forma, assegura "a manutenção do evento em Portugal". Isto perante os "fluxos turísticos" e a "elevada projecção do destino" garantidos pela prova. Simultaneamente, promete lançar uma consulta para obter patrocínios.
A organização usa o mesmo argumento. "Estávamos seguros de poder manter Portugal no calendário e Lisboa conseguiu preencher todos os requisitos", levando a corrida "para o próximo nível", refere o comunicado.