Horas antes do ataque de orcas que causou o naufrágio de um veleiro ao largo de Sines, na madrugada de domingo, uma embarcação de passeios turísticos conseguiu escapar de uma interação com um grupo de orcas em Sesimbra.
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O comandante da embarcação turística decidiu executar a manobra de Marc Herminio, que no ano passado repeliu um ataque de dez orcas em Gilbraltar, ao colocar o seu veleiro em marcha à ré, em vez de o imobilizar e desligar o motor, como é sugerido pelas autoridades.
O caso ocorreu na manhã de sábado, a seis milhas da costa de Sesimbra. "Senti um toque no leme e coloquei de imediato a embarcação em marcha à ré, a chamada manobra Marc Herminio. O grupo de três orcas perseguiu-nos durante cinco minutos e depois desistiu", conta ao JN Jorge Branquinho, que seguia com dez turistas a bordo da embarcação "Amor ao Ofício".
A manobra em causa numa embarcação que segue com alguma velocidade requer uma grande experiência e afigura-se mais difícil em veleiros do que em embarcações de pesca tradicionais. Ainda assim, na opinião do empresário turístico, esta é a única forma de repelir as orcas.
"Não sei se são ataques ou curiosidade pelos animais, mas perseguem as embarcações e se pararmos o motor e deixarmos a embarcação à deriva, tornamos a embarcação num alvo fácil e por isso há que colocar a marcha à ré para até que percam o interesse", explica o homem de 55 anos. A embarcação não sofreu danos e o caso foi reportado a outras empresas marítimo-turísticos.
Horas depois, em Sines, na madrugada de domingo, um veleiro foi alvo de um ataque por orcas e naufragou. Os cinco ocupantes sobreviveram e foram resgatados. O veleiro seguiu as recomendações das autoridades, imobilizando o motor, mas foi abalroado e naufragou.
Interações começaram em 2020
Entre março e agosto, as orcas rumam a sul, desde a Galiza ao Estreito de Gibraltar, seguindo a migração do atum e, entre setembro e outubro, regressam a norte, passando a Galiza. Até 2019 não havia registo de interações com estes animais, que desde sempre passaram ao largo da costa na rota do atum, mas, a partir de 2020, começaram as interações, muitas perigosas. A maior parte das ocorrências são registadas em Espanha, mas em Portugal, em 2020, houve 17 ocorrências, oito das quais com danos nas embarcações, nomeadamente o leme. Em 2021, foram registadas 51 ocorrências, 21 com danos.
Biólogos portugueses, franceses e espanhóis juntaram-se e criaram um grupo de trabalho para perceber o comportamento das orcas, o Orca Atlântica. Aqui criaram mesmo um sistema de alerta à navegação, composto por semáforos em algumas zonas da costa onde há mais interações.