Os "passos da prisão" de Cristo foram recriados, anteontem, à noite, na via-sacra da Mata do Buçaco, uma réplica fiel da de Jerusalém, única no Mundo. Fundação quer o espaço inscrito no mapa do turismo religioso.
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Aface menos conhecida da Mata Nacional do Buçaco, no concelho da Mealhada, esteve em evidência, na noite de anteontem, com a recriação dos "passos da prisão" de Cristo, na via-sacra erguida pela ordem religiosa dos Carmelitas Descalços, no século XVII. Trata-se de uma réplica da via-sacra de Jerusalém única no Mundo. E a Fundação Mata do Buçaco, responsável pela iniciativa, quer inscrevê-la no mapa do turismo religioso.
O primeiro esforço parece ter servido, já, esse objectivo: houve espanhóis e alemães na assistência (os primeiros souberam pela Internet), enquanto os escoteiros de quatro agrupamentos da Mealhada recriavam a primeira parte da via-sacra. Os "passos da paixão" de Cristo acontecem hoje, às 10 horas, desta vez a cargo da Associação de Jovens Cristãos de Luso.
Isilda Leitão deixou Sintra, propositadamente, para assistir aos seis "passos da prisão" de Cristo, na Mata do Buçaco anoitecida. "Sempre pensei que era um desperdício este espaço não ser reconhecido como um espaço de sagrado, de religioso, que não se reduz ao Palácio do Buçaco", assinalou a professora da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, no final.
O percurso total compreende mais de três quilómetros, mata adentro, e inclui 20 pequenas capelas, construídas a partir de 1694. "Achámos que poderíamos divulgar este património histórico e religioso fazendo algo diferente", explicou, ao JN, António Jorge Franco, presidente da Fundação Mata do Buçaco, que gere o espaço desde o final do ano passado.
Obras de restauro na mira
"A nossa prioridade é recuperar o património. E, para isso, é preciso dá-lo a conhecer", defendeu Franco, que espera poder avançar com obras de restauro em 2011. Os alvos são as capelas, as ermidas de habitação (locais onde os religiosos se refugiavam para meditar) e o Convento de Santa Cruz do Buçaco.
O projecto deverá estar concluído este ano. Ainda não há estimativas quanto ao valor do investimento necessário, mas a Fundação Ricardo Espírito Santo Silva e a Universidade de Aveiro estão interessadas em ajudar a combater os efeitos de um vandalismo prolongado, que se traduziu no furto de azulejos - alguns, seculares h e na destruição de esculturas. António Jorge Franco lembra que a Mata do Buçaco é dona de um forte património religioso e arquitectónico, sim, mas também natural. Tem mais de 700 espécies de árvores, oriundas dos cinco continentes, muitas delas raras.