O presidente do Serviço Regional de Saúde da Madeira, Miguel Ferreira, considerou, esta quinta-feira, "não ser previsível" que uma criança de 18 meses consiga sobreviver durante três dias sozinha na serra, ao frio e com fome.
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Segundo Miguel Ferreira, "não é previsível que um bebé de 18 meses conseguisse tolerar temperaturas adversas como as que se verificam naquelas alturas na serra (...) e aguentasse três noites sem alimentação".
Ao falar sobre o caso da criança encontrada na quarta-feira três dias após o seu desaparecimento na Calheta, Miguel Ferreira recordou que, "há algum tempo, um episódio" na Madeira, como« "pessoas adultas que ficaram uma noite em temperaturas destas, acabou mal".
Sobre a situação clínica da criança, o médico informou que "ficou durante a noite no serviço de Pediatria" do Hospital do Funchal e as análises efetuadas "revelaram algum grau de sofrimento muscular", pelo que continuará internada e o seu estado será reavaliado na sexta-feira.
De acordo com Miguel Ferreira, a equipa médica que acompanha a criança considera que os valores registados nas análises clínicas efetuadas poderão estar relacionados com a situação do menino ter estado "exposto ao frio".
O responsável informou ainda que o bebé "tem na pele uma lesão" decorrente "de ter estado exposta ao frio" e tem tido um "comportamento normal com a mãe. Quando está no colo da mãe está bem", embora esteja "um bocadinho chorosa", o que considerou normal por causa das dores musculares.
O presidente do Serviço Regional de Saúde da Madeira adiantou que os elementos recolhidos nas análises e observação feita pela equipa médica constam do relatório efetuado e entregue à Polícia Judiciária.
Por outro lado, os médicos "têm indicação de que quando a criança tiver alta clínica têm de comunicar. Nessa altura, vou perguntar ao Ministério Público se há alguma limitação que contraindique que seja entregue aos pais", disse Miguel Ferreira, sustentando que se não houver qualquer instrução contrária terá "alta como qualquer paciente".
A criança desapareceu durante um convívio familiar na Calheta na tarde de domingo e só foi encontrado três dias depois, na manhã de quarta-feira, por um levadeiro (profissional que controla distribuição de água de rega) a cerca de dois quilómetros da casa onde estava.
O pediatra que observou o bebé, José Luís Nunes, foi uma das pessoas que considerou "intrigante" o facto da criança ter sobrevivido em condições tão adversas e o coordenador da Polícia Judiciária na Madeira admitiu que possa estar-se perante "um caso de rapto", assegurando que prosseguem as investigações.