Retirada de resíduos de S. Pedro da Cova começou mas população promete continuar luta
Treze foguetes, um por cada ano de depósito de 88 mil toneladas de resíduos perigosos, ouviram-se esta quinta-feira em S. Pedro da Cova, Gondomar, dia em que o Governo assinalou a saída do primeiro camião de "lixo que ninguém quer".
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"S. Pedro da Cova exige requalificação do espaço e apuramento de responsabilidades pelo crime ambiental", lia-se numa faixa junto ao estaleiro onde começaram a entrar máquinas para retirar os resíduos industriais provenientes da Siderurgia Nacional depositados, entre maio de 2001 e março de 2002, em escombreiras de antigas minas.
Cerca de meia centena de pessoas manifestava-se à entrada: "Deixava o que estivesse a fazer para vir aqui hoje. Estou muito, muito, contente", disse Adelina Ribeiro, residente em S. Pedro há 63 anos, enquanto passava um camião que motivou o desabafo: "que não seja mais lixo".
A alegria é partilhada por Joaquim Gonçalves, de 61 anos, todos passados nesta localidade de Gondomar que conta com cerca de 17 mil habitantes, mas o motorista reformado acrescenta receios: o estado da água e o futuro.
"O nível de prejuízo disto, só o tempo dirá. Sabe-se lá. Mas é evidente que os resíduos prejudicam porque se infiltram na terra. E as minas que são parte da história da freguesia devem ser requalificadas", referiu.
Entre promessas de que "a luta continua" e vivas por considerarem "o dia histórico", a população aproveita para lamentar que a tenham "tentado silenciar" e "obrigar" a ficar "com o lixo que ninguém quer".
"Sabemos de fonte limpa que a água está imprópria. E há pessoas que às vezes têm de recorrer a esta água", acrescentou Adelaide Ribeiro.
A garantia de que os lençóis freáticos estão a ser monitorizados foi dada hoje pelo secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos, que "acompanhou a saída do primeiro camião com resíduos" rumo à Charneca, onde vão ser tratados.
O governante liderava uma comitiva que integrava a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e a Agência Portuguesa do Ambiente, bem como responsáveis autárquicos locais.
"Estão a ser feitas análises regulares. As conclusões que chegaram das primeiras é de que não há vestígios lixiviados", disse Paulo Lemos, acrescentando, no entanto, que as águas "não são aconselháveis para consumo humano".
Antes, o presidente da Junta da União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova, Daniel Vieira, havia exigido que os responsáveis da altura em que o depósito foi autorizado - referindo o ministro do Ambiente à época, José Sócrates, e do presidente da câmara, primeiro em representação do PSD e mais tarde como independente, Valentim Loureiro - "esclarecessem o seu papel" na operação.
Em matéria de investigações, e sem ter sido questionado sobre nomes concretos, o secretário de Estado revelou que "o Ministério Público está a investigar todas as acusações e a identificar quem terão sido os responsáveis".
"Neste momento compete aos tribunais investigar e não ao Governo", disse Paulo Lemos. Mas para Daniel Vieira a questão é "judicial mas também, e muito, política".
Em causa estão cerca de 20 hectares que poderão vir a integrar o Pulmão Verde da Área Metropolitano do Porto, um projeto partilhado por Paredes e Valongo e que, conforme esperam os autarcas tando da câmara como da Junta, seja alvo de uma candidatura a fundos europeus em jeito de "compensação" à população da zona.
"Esta área tem muita história, rios, trilhos pedestres, e é essa história, essa cultura, essa natureza que queremos preservar ", disse o atual presidente da câmara, o socialista Marco Martins.
O investimento que garante a retirada destes resíduos, cuja conclusão se prevê para maio de 2015, é de 13 milhões de euros.