Rui Moreira: "O Município do Porto está na linha da frente no combate ao desperdício de água"
Entrevista a Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto.
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O Município do Porto possui um sistema público de abastecimento de água centenário, com uma história e experiência ricas que fortalecem a gestão atual. Este sistema permite uma acessibilidade física de 100% há vários anos, chegando à casa dos portuenses, segundo a autarquia, com uma "qualidade do serviço e uma qualidade da água de excelência", conforme indicam os últimos dados publicados pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos. Para estes resultados contribui o trabalho de gestão da empresa Águas e Energia do Porto.
O Plano de Segurança da Água da Cidade do Porto é considerado uma das ferramentas imprescindíveis para conseguir esses bons resultados. Que plano é este?
É um plano que completa 10 anos em 2024. Foi um dos primeiros em Portugal com um âmbito de atuação ao nível dos sistemas de distribuição. Com índoles de estratégia, tática e operacional muito acentuadas e articuladas entre si, confere resiliência e segurança profundas ao sistema público, que permitem gerir os riscos e garantir a excelência do serviço e das infraestruturas que o suportam.
Há necessidade de intervenções para melhorar o serviço?
A Águas e Energia do Porto está a terminar o novo Plano Diretor do Abastecimento de Água da cidade. Tem um horizonte temporal de 15 anos. Visa garantir a integridade e a resiliência de todas as infraestruturas, bem como assegurar a capacidade de resposta do sistema a todas as solicitações em qualquer momento ou situação de contexto interno ou externo. A empresa prevê investir cerca de 12 milhões de euros no sistema público de abastecimento de água nos próximos três anos.
Qual a percentagem de perdas de água no concelho?
A Águas e Energia do Porto concluiu o ano de 2023 com um índice de água não faturada de 13,28%. É um valor que representa um mínimo histórico para a empresa e para o Município, posicionando-a entre as entidades nacionais que menos desperdiçam água potável. O Município do Porto está na linha da frente no combate ao desperdício de água, destacando-se ainda como uma entidade de referência ao nível internacional, sendo um modelo e exemplo de eficiência hídrica.
O que está a ser feito para reduzir as perdas?
Através do seu Programa de Gestão e Redução de Água Não Faturada, a Águas e Energia do Porto monitoriza, em tempo real, toda a rede pública. Fá-lo através de mais de 350 equipamentos e sensores de última geração criteriosamente instalados. Juntam-se plataformas de análise de dados, disponibilização de informação, inteligência artificial e machine learning para apoio à gestão e decisão. Todas as ferramentas e estratégias aliam-se ao trabalho e esforço árduos de um conjunto de técnicos e operadores especialistas, como os "sondadores", que são caso único em Portugal na deteção de fugas e perdas de águas.
Qual a importância das novas tecnologias na gestão?
Gostaria de salientar o Projeto "Innowave", que congrega três ferramentas digitais desenvolvidas internamente e que permitem uma melhor gestão da redução das perdas de água. O projeto garantiu, em novembro de 2023, o prémio "Tubos de Ouro", atribuído pela Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Água, para melhor projeto de inovação tecnológica e industrial.
Para o Município do Porto é vantajoso integrar a Águas do Douro e Paiva?
O Porto foi um dos primeiros e dos maiores municípios a integrar, desde o início, a empresa multimunicipal Águas do Douro e Paiva. A sua criação visou robustecer o abastecimento de água ao Grande Porto, no qual a Invicta acaba por ser a capital e principal interessada. A integração no sistema, que assegura o fornecimento, em alta, de água de qualidade à cidade, é essencial para o trabalho diário da Águas e Energia do Porto.
Que desafios é necessário vencer?
Os desafios atuais e futuros podem enquadrar-se em quatro dimensões essenciais: a primeira relacionada com o stresse hídrico, a segunda relativa à qualidade da água, a terceira que se prende com a sustentabilidade das entidades gestoras e uma quarta que envolve a transição digital e o serviço ao cliente.