A Câmara de São João da Madeira implementou medidas tendo especial atenção aos mais velhos e a quem não tem apoio familiar. Uma padaria deixa sacos com pão à porta para ajudar os mais necessitados do concelho.
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"Se precisar de pão, leve. Por favor não estrague". A mensagem está escrita num cartão colocado ao lado de vários sacos contendo pão, encostados na porta de uma padaria de S. João da Madeira, o concelho de menor área geográfica do país.
São apenas oito quilómetros quadrados de território que, por esta altura, também não escaparam à pandemia implacável que se alastra. Ontem, havia o registo de 45 infetados.
Mas, em S. João da Madeira, responde-se às dificuldades com gestos solidários e uma teimosia em não baixar os braços, fazendo jus ao brasão da cidade: "Labor".
"Há muitas pessoas a passar dificuldades e eu queria ajudar um pouco", explicou Rui Almeida, proprietário da Padaria Planeta Azul. Todos os dias, depois das 13.30 horas, quando se prepara para fechar o estabelecimento, coloca junto à porta vários sacos com pão.
"De manhã, quando venho trabalhar, já os levaram todos. Vê-se que há gente a precisar e quero fazer a minha parte", justificou o comerciante.
Rui Almeida confirma que o negócio teve uma quebra considerável, mas assegura: "Vou continuar de porta aberta e a deixar o pão a quem precisar".
Entrega de bens
Ajudar quem mais necessita é também uma das prioridades da Câmara de S. João da Madeira. Tomadas, antecipadamente, várias medidas preventivas e de reação aos efeitos da pandemia, o presidente da Câmara, Jorge Sequeira, mostra preocupação acrescida em relação aos idosos e a quem está só, sem apoio familiar.
"Temos instalado um sistema de entrega de bens essenciais ao domicílio para pessoas idosas e incapacitadas. Já fizemos dezenas de entregas de medicamentos e de refeições confecionadas", explicou o autarca.
Linhas de apoio
O município disponibiliza, ainda, linhas telefónicas de apoio psicológico e de outro tipo de ajuda. "Promovemos até ao momento cerca de 700 contactos telefónicos com os munícipes que temos referenciados. Eu próprio tenho uma lista de pessoas a quem ligo com frequência para saber se estão bem ou a necessitar de algum apoio", esclarece.
Jorge Sequeira apela à população para estar atenta e colaborar na identificação de quem está a passar dificuldades.
"Não queremos que ninguém fique para trás. Peço que a população esteja atenta às pessoas idosas que possam estar sozinhas sem capacidade de pedir apoio à Autarquia. Informem-nos dessas situações", reitera o presidente da Câmara.
Primeiro caso positivo
Em S. João da Madeira o primeiro caso positivo de Covid-19 foi registado a 17 de março. Uma semana depois, no dia 24, verificou-se a segunda morte, desta vez de um homem de 62 anos, utente da CERCI. Nesta instituição, foram detetados cerca de uma dezena de infetados entre utentes e funcionários.
As primeiras medidas preventivas foram tomadas pela Autarquia no final de fevereiro. Seguiram-se outras "mais musculadas", "ainda antes de serem decretadas orientações e decisões por parte do Governo".
Além do encerramento de espaços públicos e de toda a atividade não essencial, a 16 de março foi criada uma estrutura permanente para a gestão de crise que abrange todos os representantes da Proteção Civil e que se reúne diariamente para decidir as medidas a serem implementadas.
"Foi necessário uma alteração completa das nossas prioridades. Uma transformação radical da nossa rotina, o que implicou uma reorganização profunda dos nossos serviços", concluiu Jorge Sequeira.
Detalhes
Máscaras
Tiago Gomes e Carlos Pinho, dois jovens empresários do setor do calçado, meteram mãos à obra e, com apoio de mais vinte empresas, produziram 4000 viseiras para oferecer a profissionais de saúde. Agora, estão a certificar o produto para começar a comercializar.
Campas enfeitadas
A Câmara de São João da Madeira colocou flores e velas nos cemitérios do concelho. Os espaços estão fechados e as famílias não podem enfeitar as campas.
Tenda de campanha
Foi instalada no Centro de Saúde de S. João da Madeira uma tenda de campanha para permitir um novo circuito de acesso à unidade. Essa estrutura foi solicitada à Câmara que, através da Proteção Civil Municipal e em articulação com o Comando Distrital, contactou o Exército para obter essa resposta, o que foi atendido de imediato.
Pavilhões
Com a colaboração do Exército, foram instaladas 100 camas no Pavilhão Paulo Pinto e no Pavilhão das Travessas, para apoio a ocorrências e necessidades no quadro da emergência de saúde pública. Também o Pavilhão da Escola João da Silva Correia está preparado com cerca de 90 camas para poder acolher idosos do lar da Misericórdia de S. João da Madeira, em caso de necessidade.