Câmara justifica mudança dos términos da Rua de Alexandre Braga com obras no mercado do Bolhão, mas autarcas de Gondomar e Valongo querem alternativa mais próxima do centro.
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As linhas de autocarro que servem Gondomar e Valongo vão deixar de poder concluir viagem no Bolhão. Os passageiros terão de sair no Dragão e serão forçados, por exemplo, a apanhar depois o metro para o centro da Invicta, segundo o plano que a Câmara do Porto prevê anunciar na próxima semana, o que está a gerar forte contestação junto de vários autarcas naqueles dois concelhos. Preveem que esta medida, que poderá entrar em vigor já a 5 de fevereiro, seja definitiva e não só durante as obras no mercado que obrigarão a fechar a Rua de Alexandre Braga, onde terminam linhas da STCP, da Gondomarense e da Valpi. Está já prevista a instalação de abrigos junto ao pavilhão Dragão Caixa.
Os dois municípios querem que os autocarros possam fazer o término mais perto da Baixa. A alternativa ideal defendida por vários autarcas é a zona do Campo 24 de Agosto, pelo menos até arrancarem ali as obras no seguimento da intervenção na Avenida de Fernão Magalhães. Porém, a Câmara já estará a contactar os operadores para, a partir do dia 5, o término das linhas 55, 69, 70, V94, 700, 800 e 801 ser nas Antas. Além disso, prevê-se que as linhas que já terminam no Campo 24 de Agosto, como 27, 33 e 34, e outras da Valpi e da Auto Viação Pacense, mudem também para o Dragão.
Entretanto, estará já definida a distribuição pelos nove abrigos previstos na baia de estacionamento junto ao Dragão Caixa.
Em 2014, a vereadora Cristina Pimentel já anunciara a intenção de mudar os autocarros para o Dragão. Instada agora pelo JN, a Câmara promete anunciar em breve as restrições devido às obras, de 24 meses, no Bolhão.
"Sensatez e respeito"
A dar voz à contestação, em declarações ao JN, estão por exemplo o presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, bem como os presidentes da Junta de Rio Tinto, Nuno Fonseca, e da união que agrega S. Cosme, Valbom e Jovim, António Braz. Acusam o Porto de prejudicar as populações que viajam para a Invicta, seja para trabalhar, estudar ou para se deslocar ao Hospital de Santo António. Em causa estão mais de 20 mil passageiros por dia, em cada sentido. Consideram ainda que a medida incentiva o uso do automóvel.
José Manuel Ribeiro pede "sensatez" à Câmara do Porto, esperando que a decisão seja temporária, e reclama "respeito" pelos "cidadãos metropolitanos" vindos de "Gondomar, Valongo e Paredes".
Nuno Fonseca crê que este "não é comportamento do centro de uma grande metrópole" e que "a Câmara do Porto não pode olhar só para dentro". Alerta para a falta de capacidade do metro perante o fluxo de "mais de dois mil passageiros por hora", para o acréscimo do tempo de viagem e do custo para o utente, tal como para a concentração excessiva de autocarros no Dragão, sobretudo em hora de ponta e dias de jogo. Sugere dividir as carreiras, sendo que algumas iriam ao Campo 24 de Agosto. E poderia nem haver término na Baixa, mas "paragem circular".
António Braz nota que está em causa sobretudo S. Cosme. "Milhares de habitantes" vão perder diariamente "mais 15 ou 20 minutos" e terão de descer até à estação do Dragão. "Se houver vontade política da Câmara", crê que pode ser encontrada uma alternativa, com "algumas carreiras a chegar ao Campo 24 de Agosto".
Câmara lembra exclusividade por parte da STCP
"Não é possível fazer obras sem provocar constrangimentos e as obras do Bolhão são, naturalmente, necessárias. Dessa forma, será necessário criar algumas restrições ao trânsito", reagiu a Câmara, questionada sobre a saída das paragens para o Dragão. Promete "comunicar brevemente quais serão as suas decisões". E lembra que "no Porto vigora, contrariamente aos outros concelhos, um regime de exclusividade de operação por parte da STCP". E, "numa perspetiva de colaboração com os outros municípios, serão criadas todas as condições de intermodalidade necessárias".
Saiba mais
Freguesias afetadas
Em causa estão as carreiras com término no Bolhão: 55 (Baguim); 69 (Fânzeres); 70 (Formiga); V94 (Valongo); 700 (Campo); 800 (Gondomar); e 801 (S. Pedro da Cova). E as que já ficam no Campo 24 de Agosto, como 27, 33 e 34. São pelo menos 500 viagens por dia e por sentido.
Outras queixas
Os passageiros terão de fazer transbordo numa estação de metro (Dragão) três níveis abaixo da rua, percorrer 200 metros até aos abrigos, vão aumentar o tempo de viagem, ser forçados a adquirir Andante e não têm estruturas de apoio como no Campo 24 de Agosto.