Cerca de 180 mil pessoas presentes na bênção dos capacetes, realizada este domingo, numa celebração onde o patriarca de Lisboa, Rui Valério, lembrou as vidas "ceifadas" nos incêndios que, na última semana, atingiram o país.
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O Santuário de Fátima encheu-se, este domingo, para a tradicional bênção dos capacetes, que juntou na Cova da Iria cerca de 180 mil pessoas, naquela que foi a maior peregrinação dos motociclistas, que se realiza desde 2014. Entre os pedidos de protecção à Virgem para quem anda na estrada, também se rezou pelos amigos que se perderam em acidentes e pelas vítimas dos fogos que, na última semana, atingiram o país. O flagelo dos incêndios foi também lembrado pelo patriarca de Lisboa, Rui Valério, que presidiu à celebração e que, durante a homilia, apelou à oração por aqueles "cujas vidas foram ceifadas" pelas chamas e no seu combate.
Entre os milhares de motociclistas presentes no recinto esteve Martinho Lopes que se deslocou a Fátima com um grupo com quase uma centena de pessoas provenientes de Moreira de Cónegos. Conta que foi a quarta vez que participou nesta peregrinação e que já assumiu com a esposa, também ela amante de motos, o compromisso de voltarem todos os anos, enquanto a saúde lho permitir.
"Os motociclistas têm o rótulo de 'arruaceiros', mas são pessoas de muita fé e solidários. Viemos pedir proteção a Nossa Senhora e lembrar amigos que já faleceram. Já perdi três no asfalto. Hoje, vou também rezar por eles", revelou Martinho Lopes, confessando que a "paixão" pelas duas rodas lhe está "no sangue". "Sou mecânico numa oficina de motos. É o meu transporte do dia-a-dia, porque ajuda a contornar o trânsito de Guimarães [onde trabalha]. O carro é mais confortável, mas na mota sentimos outra liberdade", confidencia.
Presenças habituais em Fátima, mas a participar pela primeira vez na bênção dos capacetes Marco Morgado, de 30 anos, e Humberto Silva de 58 anos, dois amigos residentes no Gavião, distrito de Portalegre, ficaram rendidos à iniciativa. "Fátima e este evento em particular é algo que todo o motociclista deve experienciar. Quem tem fé, saí daqui reconfortado. Buscamos proteção, porque andar de mota é um risco", partilha o mais jovem, frisando, no entanto, que "não se pode deixar tudo nas mãos de Nossa Senhora". "Temos de cumprir a nossa parte. A segurança começa em nós", afirma.
Apelo semelhante foi deixado pelo patriarca de Lisboa, Rui Valério. “A segurança rodoviária, a atenção e o cuidado na condução são, não obstante comportamentos incoerentes de tantos”, valores que os motociclistas devem assumir e praticar, defendeu o bispo, que, na sua homilia, evocou ainda os "nefastos incêndios que destroem a floresta, dizimam vidas e atentam habitações", exortando à oração pelas vítimas".
Na sua intervenção, o patriarca lembrou, também, os focos de guerra ativos em várias partes do mundo, afirmando que a “peregrinação (…) ao encontro de Deus é um hino de esperança na humanidade, não obstante os conflitos mundiais – como na Ucrânia, no Médio Oriente, na República Centro Africana – ‘lugares da derrota da própria humanidade’, como diz o Papa Francisco”.
Esta peregrinação ficou ainda marcada pela condecoração entregue pelo comandante-geral da GNR ao reitor do do Santuário de Fátima, atribuição à instituição religiosa a Medalha de D. Nuno Álvares Pereira – Mérito da Guarda Nacional Republicana. Uma distinção que, segundo o despacho lido na ocasião, visa reconhece a “cooperação e a excelente relação institucional entre o Santuário de Fátima e a GNR”.