David Martins preside à Conferência Vicentina de São Pedro do Araújo e as duas netas dão-lhe uma ajuda. Criaram ambas associação filantrópica.
Corpo do artigo
David Martins preside a Conferência Vicentina de São Pedro do Araújo, em Matosinhos, e está ligado ao voluntariado há 14 anos. Na solidariedade encontrou uma "forma de estar na vida", que tentou sempre transmitir às netas. Hoje, elas seguem-lhe as pisadas e criaram a "Dar D"Ti", uma associação de voluntariado sem fins lucrativos.
14664238
Aos 76 anos, David Martins quer continuar a "ser útil à sociedade e aos outros" e é por isso que se mantém ligado ao voluntariado. Todos os meses garante a sobrevivência de mais de meia centena de pessoas. Lida de perto com o drama social das famílias que têm na Conferência Vicentina a única forma de colocarem comida na mesa. Em fevereiro, distribuiu 28 cabazes de alimentos provenientes de doações do Banco Alimentar Contra a Fome do Porto e de verbas da autarquia de Matosinhos.
Nem mesmo o cansaço lhe retira a "satisfação de poder fazer tantas pessoas felizes". A solidariedade dos mecenas também permite que as contas em atraso ou os medicamentos de algumas famílias possam ser assegurados pelos nove membros que compõem a equipa sénior.
Uma aventura
A idade do avô fez com que Marta Brandão entrasse na aventura. Todos os meses ajuda na distribuição de cabazes, já que nem sempre existem voluntários. É com orgulho que segue o percurso do avô e disponibiliza tempo livre na partilha de amor com quem "pouco ou nada tem". "Estou na Conferência há dois anos e é gratificante poder fazer parte, é o melhor sentimento do Mundo". Depois da morte da mulher, David quis abraçar um projeto de voluntariado "mais sério" e inscreveu-se em Pediatria Oncológica no Hospital de São João, onde esteve 11 anos. Recorda com emoção o caso que até hoje mais o marcou, "a Nininha nunca mais me vai sair da cabeça". A menina de sete anos criou uma ligação com David, que ainda hoje chora quando relembra a notícia da morte. No olhar atento às pessoas que chegam à Conferência, instalada na Universidade Sénior de Matosinhos, para levantar cabazes, permanece o brilho de quem acredita na continuidade da missão. "O voluntariado é uma coisa que apaixona e ver essa paixão prolongar-se através dos meus seria um grande orgulho", diz o avô.
Para sua alegria, a neta mais velha, Raquel Brandão fundou a associação Dar D"Ti. Um projeto para atrair mais jovens e inspirado na vontade do avô em rejuvenescer a equipa da Conferência: "Quando senti necessidade de criar esta associação, percebi que poderia ajudar o meu avô", reiterou. Depois de 28 cabazes entregues a 56 famílias, David abraçou as netas, como se naquele abraço coubesse todo o amor do Mundo.
Este mês
Dar D"Ti abre portas ao voluntariado
A associação Dar D"Ti surgiu da necessidade de Raquel Brandão implantar no mercado um modelo diferenciador: "Queremos simplificar o processo de ingresso dos voluntários nas organizações". As experiências menos positivas que teve foram o principal motivo para acreditar no potencial do projeto. "Existe um processo burocrático muito longo, que acaba por desmotivar os voluntários que querem começar de imediato". Raquel criou parcerias com instituições em diversas áreas de intervenção e apostou num público-alvo específico: "Vamos trabalhar só com universitários. À partida, são os que têm mais tempo para disponibilizar".
Pobreza
Dois milhões de pessoas
Segundo o INE, o risco de pobreza em Portugal aumentou entre 2019 e 2020, atingindo quase dois milhões de pessoas.