Em entrevista ao JN, Eduardo Vítor Rodrigues garante que irá recandidatar-se à presidência da Câmara de Gaia em 2017, seja quem for o adversário. Dias depois das notícias que dão conta da possibilidade do seu antecessor, Luís Filipe Menezes, se apresentar à corrida municipal dentro de dois anos, o autarca entende que o social-democrata é passado e já "estamos noutro tempo".
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Gaia escapou ao Fundo de Apoio Municipal (FAM). O que acontecerá caso se confirmem as condenações judiciais da Cimpor e da VL9?
Já conseguimos escapar ao FAM e estamos a lutar contra a injustiça nestas condenações. Somos capazes de incorporar uma sentença por termos feito uma redução do passivo de 30 milhões. Eu desafio que encontrem uma câmara, mesmo a de Lisboa, que tenha feito a mesma coisa num ano só.
Mas não conseguiria incorporar duas condenações?
Se criarmos um plano de pagamento, é possível. A boa gestão financeira preparou o Município para os impactos de eventuais decisões judiciais, para candidatar-se ao quadro comunitário e fez o Município fugir do FAM.
Nunca quis responsabilizar o seu antecessor, Luís Filipe Menezes, pela situação de endividamento da autarquia nem pelo desgoverno da Gaianima. Por quê?
Luís Filipe Menezes é passado e eu tenho respeito pelo meu passado, desde o primeiro presidente de Câmara do pós 25 de abril. A política não se faz aos tiros. Se me permite o termo, já passou o tempo do armanço e da vaidade pessoalista com que muitos presidentes de câmara se vestiam depois de tomarem posse. Também está passado o tempo das megalomanias com o dinheiro do povo. Hoje, as pessoas querem estratégias de cidades inteligentes e sustentáveis, bons transportes, boas rodovias e equipamentos âncora. Não querem túneis a atravessar a Afurada para a Foz nem 20 pontes entre Gaia e Porto. Estamos noutro tempo. Eu respeito muito o passado, mas compete-me escrever o presente e tentar escrever o futuro o melhor possível.
Acha mesmo que estamos noutro tempo? Surgem notícias de que Luís Filipe Menezes de pode recandidatar-se à Gaia em 2017.
Acho que estamos noutro tempo, que não se traduz na ânsia de poder. A minha convicção é que vou ser candidato em 2017 e ganharei as eleições autárquicas com uma votação reforçada, porque sinto que as pessoas olham para o presente e para o futuro e acham que não tem sentido olhar para trás.
Ainda que Luís Filipe Menezes seja o adversário?
Um grande democrata tem que aceitar todos os cenários e o meu cenário é ser candidato em 2017.
Além da Câmara de Gaia, admite ser candidato à Distrital do PS no Porto?
Estou muito feliz com o resultado obtido ao fim de um ano e meio de governação e com o trabalho feito. Mas não julgo que tenha acabo o meu tempo de dedicação exclusiva a Gaia. De momento, a minha predisposição é para servir Gaia a tempo inteiro e com grande exclusividade. A minha voz nos contextos distrital ou metropolitano pode ser forte, independentemente de ser presidente da Distrital. Por outro lado, o pior que pode acontecer às lideranças é sentirem que estão líderes e já está a ser discutida a sua substituição. Eu não queria fazer essa maldade.
Como é que viu a concessão do metro aos candidatos catalães, sem que a dúvida legal sobre a condição dos concorrentes estar completamente esclarecida?
Um erro, embora o enfoque da minha crítica nunca tenha sido a concessão do Metro do Porto. Sou favorável à concessão do Metro do Porto e desfavorável à concessão da STCP.
Acredita que ainda é possível evitar a concessão da STCP nos termos actuais?
Sou um otimista, mas há momentos em que a realidade procura estragar o meu otimismo. Só espero que seja possível reverter a eventual concessão da STCP, se não for pelo lado político que seja pelo lado judicial. Os municípios deram uma alternativa de descentralização, municipalizando o serviços e mantendo-os no espetro público. Seria uma parceria pública-pública. O Governo optou pelo modelo de concessão público-privada, que, na minha opinião, vai correr muito mal.
Em final de mandato, o Governo tem legitimidade para fazer concessões de 10 anos, tanto mais com a contestação das câmaras e dos partidos da oposição?
O Governo tem legitimidade democrática política para fazê-lo, mas entendo que não tem legitimidade moral face aos impactos que a concessão terá.