Salários baixos, carreiras sem progressão, horários instáveis, vínculos precários, más condições para trabalhadores imigrantes, abuso de estagiários sem remuneração ou com remuneração muito baixa. O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte (STIHTRSN) saiu à rua, na manhã desta terça-feira, para denunciar diversos problemas no setor e exigir mudanças.
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"Há milhares de trabalhadores que recebem apenas um salário mínimo e trabalham fins de semana, feriados e por turnos, não ganhando nada por isso", referiu Francisco Figueiredo, presidente do sindicato.
"Há trabalhadores que estão há cerca de 20 anos na hotelaria e não têm progressão, trabalham em hotéis cinco estrelas e ganham 800 euros. E trabalhadores de nível avançado a ganhar pouco mais do que o salário mínimo", acrescentou Joana Jesus, também dirigente do sindicato.
Mas há mais queixas, como a instabilidade nos horários de trabalho. "São alterados sistematicamente e não permitem a conciliação da atividade profissional com a vida pessoal e familiar", explicou Francisco Figueiredo. "Os hotéis alteram todas as semanas os horários, os trabalhadores nunca sabem que horário vão fazer no dia seguinte", pormenorizou. Além disso, devido à "falta de mão-de-obra" e aos ritmos de trabalho intenso, os funcionários "fazem o trabalho de duas ou três pessoas e acabam por despedir-se, não aguentando tanta pressão".
Também a questão da precariedade dos vínculos preocupa. "Grande parte dos trabalhadores acabam os contratos e não ficam, são despedidos", relatou Joana Jesus, criticando também a constante contratação de funcionários "extra" que "são chamados, por empresas de trabalho temporário, para suprir baixas e acidentes de trabalho e que, apesar de receberem uma quantia boa pelo dia, não têm um futuro assegurado e não têm tanto conhecimento da área".
A preocupação com a situação dos muitos imigrantes no setor é outra das denúncias. "Não garantem a esses trabalhadores formação profissional em técnicas hoteleiras, em línguas portuguesa e inglesa e não lhes dão salários dignos nem alojamento", explicou Francisco Figueiredo, revelando ainda que "há apartamentos a albergar 10 a 12 imigrantes, sem condições".
Joana Jesus frisou ainda que "há um uso e abuso dos estagiários, que não são remunerados e, se são, é com um salário muito baixo". A sindicalista acrescentou que são, muitas vezes, mandados fazer serviços para os quais não têm formação.
Melhorar os salários, respeitar as horas de trabalho semanais e oferecer estabilidade são reivindicações do Sindicato de Hotelaria. "Deve-se negociar a contratação coletiva, o pagamento de trabalho nas folgas, nos feriados e os trabalhos suplementares, o subsídio noturno, os prémios de línguas", entre outras matérias, refere Francisco Figueiredo, assinalando que se trata de uma questão de vontade do patronato, uma vez que o turismo está de volta em força: "Basta olhar, por exemplo, para a Avenida dos Aliados [Baixa do Porto]".