Cada vez há mais veículos a circular na cidade e muitos utilizadores não cumprem as regras. Moradores e comerciantes alertam para o perigo. Câmara lembra que criou regulamento.
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São um divertimento para turistas e uma dor de cabeça cada vez maior para moradores e trabalhadores. Há, desde o início de agosto, mais 700 trotinetas no Porto, que tem agora 1600 veículos. E os hábitos já criados não mudam: sem via dedicada, os utilizadores circulam nos passeios, ou nas estradas, mas sem capacete, e muitas vezes em contramão. Moradores relatam acidentes e comerciantes queixam-se de confusão nos pontos de partilha destinados para estacionar os veículos. Os problemas começam a alastrar-se a outros concelhos, como Gaia, que recebeu mais 400 trotinetas.
A Câmara do Porto recorda que, antes de autorizar a circulação das trotinetas na cidade, criou um regulamento. O documento proíbe a circulação em passeios e outras zonas pedonais, mas muitos dos utilizadores não cumprem as regras, apesar dos avisos dados pelas aplicações. É certo que o estacionamento fora dos pontos de partilha tem diminuído, já que as plataformas só permitem terminar a viagem se o veículo estiver num dos locais definidos, mas há muitos veículos que continuam a ser abandonados. Em alguns casos, por exemplo, ficam sem bateria.
APlicações alertam
A Bolt, que começou há cerca de um mês a operação no Porto, garante que as zonas onde a circulação é proibida estão assinaladas na aplicação, e que no início de cada viagem são dadas dicas de boas práticas ao utilizador. Entre elas, "destaca-se o uso de capacete, a adesão às regras de trânsito, condução nas ciclovias sempre que possível e evitar o uso dos passeios", respondeu Santiago Páramo, responsável de micromobilidade da Bolt em Portugal. O JN também questionou a Bird, que não respondeu em tempo útil....
Na Rua da Conceição, Paula Martinho conta que, há cerca de 15 dias, quando "uma senhora estava a sair do café" foi "atirada contra a parede" por causa de "uma rapariga que vinha no passeio, acelerada, de trotineta". "Foi a própria que me contou. Ficou magoada e teve de ir ao hospital. E ainda é nova. Se fosse uma pessoa de idade não sei o que teria acontecido", acrescentou a farmacêutica, de 57 anos. "Eles passam inadvertidamente: tanto estão na estrada como no passeio. Não há consciência nenhuma. Começa a ser uma grande preocupação", observa.
Na Praça de Guilherme Gomes Fernandes, o tema provoca alguma revolta. "Andam todos em sentido contrário e deixam as trotinetas em todo o lado", indigna-se uma trabalhadora, que preferiu não se identificar. "E são muitas. Às vezes, de manhã, está tudo tão cheio de trotinetas que até vão parar à nossa porta", atira a colega.
"O que mais me incomoda é circularem em sentido contrário. Às vezes até estão bem estacionadas, mas os utilizadores alcoolizados dão cabo de tudo", acrescenta a comerciante. O problema, observa, "é que são tantas, que às vezes a recolha não chega a todo o lado".
A Câmara do Porto realça que as mais recentes trotinetas, da Bolt, "estão equipadas com funcionalidades inovadoras, como, por exemplo, um teste de reação cognitiva capaz de avaliar se o utilizador consumiu bebidas alcoólicas".
Bicicletas elétricas também estão disponíveis no Porto, além das trotinetas. Estão integradas no mesmo sistema de partilha e são geridas pela operadora Bird.
Pontos de partilha
De acordo com a Câmara do Porto, face ao crescimento da utilização, têm vindo a ser reforçados os pontos de partilha nas zonas com maior procura, com um aumento de capacidade superior a 140 veículos.
"Modo iniciante"
Na aplicação da Bolt, nota a operadora, há uma opção de segurança que limita a trotineta aos 15 km/h. É designada como "Modo iniciante". A aplicação também notifica o utilizador no caso de más práticas.