Presidente do Conselho Fiscal denunciou suspeitas de favorecimento na Casa de Caridade de Ponte de Lima durante campanha eleitoral
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O presidente do Conselho Fiscal da Casa de Caridade Nossa Senhora da Conceição de Ponte de Lima, Abel Baptista, denunciou suspeitas de favorecimento ao tesoureiro da direção na aquisição de bens e serviços da instituição. Abel Baptista falou do caso ainda durante a campanha eleitoral para as últimas autárquicas.
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A Casa de Caridade Nossa Senhora da Conceição, IPSS que presta apoio a dezenas de idosos, está envolta numa polémica que envolve a direção da instituição em suspeitas de gestão danosa, favorecimentos ilícitos, más condições infraestruturais e até assédio sexual.
Contactado pelo JN, Abel Baptista confirmou as declarações que já havia proferido em 2017 e que ficaram captadas em vídeo: "Quem fornece uma parte significativa dos alimentos para a instituição é a sogra do tesoureiro, quem fornece quase a totalidade da reparação de viaturas é o pai do tesoureiro, quem fornece uma parte significativa dos bens de higiene e limpeza da instituição é um vogal da Junta de Freguesia de que o tesoureiro é presidente e quem fornece os seguros da instituição é uma empresa da qual o tesoureiro ou é sócio ou trabalha".
Enquanto presidente do Conselho Fiscal, Abel Baptista afirma que no orçamento deste ano já foi emitido um parecer para evitar esses "favorecimentos". "No último parecer do Conselho Fiscal da instituição, que foi dado em dezembro de 2017 ao plano de atividades e orçamento deste ano, uma das coisas que dissemos é que é necessário haver concurso público para o fornecimento de determinadas coisas, nomeadamente reparação de viaturas, fornecimentos de bens alimentares e seguros para evitar que este tipo de situação seja entregue a pessoas só para relações familiares", reiterou.
Estas suspeitas de favorecimento são apenas a ponta de um icebergue do escândalo que está a afetar a instituição. Vários funcionários e alguns sócios da Casa de Caridade elaboraram uma carta na qual denunciam gestão danosa na compra e venda de propriedades. "Estamos a falar de terrenos que são deixados por utentes da instituição, em que os vendem abaixo do valor real. Vendem casas cuja escritura tem um preço e depois recebem dinheiro por 'baixo da mesa'", explicou uma das funcionárias, que não se quis identificar, garantindo que existem provas desses crimes e que já foram entregues ao Ministério Público.
Na carta, que foi enviada ao presidente da Assembleia-Geral da instituição e que este encaminhou para o Ministério Público, vêm ainda especificado o estado em que a instituição se encontra, nomeadamente com infiltrações de água e más condições em vários locais onde estão utentes. "As nossas instalações há sete anos que não tem obras, chove lá dentro, embora o presidente diga que temos um telhado novo e não sabe como entra chuva. Desde que o telhado foi arranjado, na secretaria continuam a haver bastantes infiltrações de água e no prédio antigo, chamado Casa do Pomar, continua a chover lá dentro, onde estão utentes, alguns dos quais acamados", acrescentou a mesma funcionária.
O rol de acusações inclui ainda assédio sexual a funcionárias por parte do presidente da direção da instituição. "Ele fez-me propostas para sair com ele, fez-me tentativas de beijos, de me agarrar (...) disse-me que se eu já não estivesse com o meu companheiro, para ele seria um figuinho", contou a funcionária, que preferiu manter o anonimato.
Contactado, o presidente da direção da Casa de Caridade, Aníbal Varela, optou por não prestar declarações, tendo em conta que as averiguações que estão a decorrer por parte do Ministério Público. Em comunicado, a instituição não comentou diretamente as acusações de que está a ser alvo, alertando, contudo, para as consequências criminais que possam advir das mesmas. "A Casa de Caridade Nossa Senhora da Conceição, em face das questões que têm sido levantadas no seio da comunicação social, que podem consubstanciar natureza criminal, reserva-se neste momento e a partir do dia de hoje, de acionar todos os meios legais ao seu dispor para punir as eventuais falsas declarações que sejam proferidas e que ponham em causa a honra e credibilidade quer da instituição quer dos seus representantes, que, todos os dias, emprestam com sacrifício e espírito social, o seu tempo à causa desta instituição.
As acusações e alaridos que tem sido levantados serão pelo nosso departamento jurídico, de imediato, analisadas para eventuais apresentações de queixas-crime, reservando-se a instituição de acionar também os meios cíveis", lê-se no comunicado.