Face às perdas de 80% no setor dos táxis, Município de Gaia decidiu ajudar profissionais permitindo a higienização das viaturas e a realização de testes.
Corpo do artigo
A atravessar uma das maiores crises de que há memória, os taxistas enfrentam quebras de faturação na ordem dos 80%. Enquanto tentam resistir até ao regresso dos primeiros turistas, vão adotando medidas que conquistem a confiança dos clientes nacionais. Algumas autarquias, como Gaia e Sintra, aprovaram apoios ao setor.
"Nesta fase tudo ajuda!", disse, ao JN, Joaquim Machado, 63 anos, taxista há 17, comentando que por causa da pandemia "praticamente" deixou de trabalhar, uma vez que se passaram muitos dias em que não faturou "nada". Na postura ao lado da Casa da Presidência, na Rua Dr. Ferreira Macedo, em Gaia, o taxista fez contas à vida que, ultimamente, têm sido de subtrair. "Em quase sete horas fiz três serviços, que não chegaram a 15 euros", lamentou.
A proposta aprovada há dias pelo Executivo de Gaia é pioneira. O município vai oferecer a higienização de todas as viaturas do contingente municipal, distribuir máscaras de proteção a cada licença de táxi e realizar testes de despiste. A autarquia, liderada por Eduardo Vítor Rodrigues, quer "contribuir para garantir à população o acesso a um meio de transporte individual seguro".
Dezenas de taxistas já realizaram o despiste à covid-19, no Pavilhão Municipal das Pedras - Nelson Cardoso. Os demais, que estejam interessados, devem consultar os serviços da Câmara, para efetuarem o agendamento. Já a higienização dos carros deverá acontecer nas oficinas municipais. A autarquia estima que estas medidas cheguem a 130 taxistas.
A Câmara de Sintra aprovou um apoio financeiro de 105 mil euros, valor que corresponde a seis meses de quotas dos 123 profissionais do concelho. Cada taxista receberá mais de 850 euros.
Agostinho Seixas, presidente da Raditáxis, refere que há relatos de taxistas, que recebiam pelo apuro do dia que, sem trabalho, estão a passar por sérias dificuldades. "Nem nos piores cenários imaginamos passar por isto", lamenta.
"Há gente a passar muito mal"
Já Manuel Neto, 72 anos, à espera de clientes na postura da Trindade, no Porto, contou que esteve a trabalhar desde as seis da manhã e, ao final da tarde, os serviços que tinha feito não chegavam para encher uma mão. "Antes, ia almoçar fora todos os dias. Agora como umas sandes", salientou. "Há gente a passar muito mal. Sei de um patrão com 12 táxis que teve de pedir um empréstimo para pagar ordenados", disse.
José Monteiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros, confirmou que "têm surgido taxistas a suspender a atividade". As dificuldades do setor fizeram-no sugerir medidas de proteção à Câmara de Gaia. Agora, o dirigente só espera que tenham "um efeito dominó junto de outros municípios ".
Detalhes
Outros concelhos ainda sem medidas específicas
Questionados os principais municípios da Área Metropolitana do Porto sobre a possibilidade de seguirem o exemplo de Gaia, Gondomar explicou que "foram realizadas duas reuniões com os representantes do setor, não tendo sido requerido qualquer apoio direto". Já Matosinhos respondeu que não. Maia "tem-se pautado pelo apoio à generalidade das empresas", mas não criou nada em específico para ajudar os taxistas. Porto e Valongo não responderam em tempo útil.