Projeto "Uma Vida" pretende ser complemento a respostas básicas tradicionais, como a alimentação e o vestuário.
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Em Espinho, há uma equipa técnica de apoio social que não espera no gabinete o surgimento de quem precisa de ajuda diferenciada. Ao longo da semana saem do escritório e vão ao encontro dos sem-abrigo da cidade, tentando encontrar soluções, minimizando sofrimento e apontando alternativas de vida.
"Os sem-abrigo não aderem muito bem ao atendimento formal, em gabinete de porta fechada. É preciso ir ter com as pessoas", explica Marília Costa, a supervisora do projeto iniciado em outubro, "Uma Vida".
Maria (nome fictício), tem 24 anos e vive na rua na companhia da sua cadela. Conta que a interação com a equipa foi "primordial" e já está em vias de arranjar um quarto onde pode dormir com a companheira de quatro patas.
Marília Costa realça que "cada sem-abrigo tem a sua história de vida" e enfatiza que é preciso "estar com eles, motivar, acarinhar, ter alguém que acredite neles todos os dias".
Mais do que disponibilizar comida e roupa, a equipa tem outros objetivos. "Tentamos ajudar os sem-abrigo em questões como o acompanhamento a consultas ou o seu encaminhamento, marcação e pagamento de consultas de especialidade médica que não sejam possíveis no SNS, e na procura de habitação", explica, por seu lado, Raquel Rouxinol, educadora social.
Um trabalho que é mais vasto e que passa, ainda, por exemplo, por campanhas de sensibilização, na tentativa de "quebrar o estigma que existe para com este tipo de população".
População difícil
Já a assistente social Alexandra Romão diz que se trata de "um grande desafio, porque se lida com uma população muito difícil de trabalhar". Contudo, "as pessoas que temos abordado têm mostrado abertura para fazermos o nosso trabalho, de criar a necessária relação para conseguirmos promover a mudança nas pessoas. Quanto mais tempo têm de rua, mais difícil é o nosso trabalho de integração".
Diz que entre as carências mais sentidas encontra-se a falta de resposta em termos de habitação. "Não conseguimos ter resposta imediata para dar um teto, mas fazemos tudo para tentar resolver esse tipo de problema".
"Há outras pequenas conquistas que são grandes vitórias para nós, como os ganhos em termos de saúde e de autoestima", concluiu.
A reter
82 sem-abrigo
Nos últimos anos, foram sinalizadas 82 pessoas em situação de sem-abrigo em Espinho. O projeto pretende, ao fim de dois anos, ter acompanhado cerca de 50 pessoas nessa condição.
Junto à paróquia
A equipa do "Uma Vida" dá apoio junto à paróquia de Espinho, à terça-feira, pelas 18.30 horas. Estão no local com uma carrinha que depois utilizam para contactar outros sem-abrigo na cidade. Também nas segundas-feiras à tarde é feito um giro pela cidade.
Projeto financiado
O projeto é financiado por fundos comunitários através do programa "Norte 2020". Tem um prazo de 23 meses. Os promotores pretendem que, após conhecidos os resultados, o projeto possa continuar.
Discurso direto
Maria - Sem-abrigo, 24 anos
"Ainda não arranjei solução para sair da rua, mas a ajuda desta equipa tem sido muito importante. Graças a este contacto, já falei com uma pessoa que, em princípio, me vai alugar um quatro, onde vou poder ficar na companhia da minha cadela"
"O trabalho desta equipa é muito importante, porque não há em mais lado algum em Espinho este tipo de ajudas"