João Crespo, namorado de Catarina Soares, uma das seis vítimas mortais do Meco, reteve o telemóvel da estudante da Lusófona durante um mês, acedendo ao seu conteúdo. O jovem quebrou o silêncio numa entrevista esta sexta-feira à RTP, deixando surpresos os pais da vítima, perante uma versão diferente daquela que lhes contou há dois meses.
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Só a pedido do pai da vítima, António Soares, é que o também estudante daquela universidade e elemento associado às praxes académicas (ligado à Tuna da Lusófona) entregou o equipamento, já a 19 de janeiro, perante a insistência do pai da jovem.
Na altura, João terá alegado querer ter uma recordação da namorada - que o próprio mostrou sexta-feira à noite, em entrevista à RTP, saber que estava a ser alvo de praxes, horas antes da onda que a matou.
João Crespo deixou ainda estupefactos os pais de Catarina Soares, após tal entrevista, onde garantiu que na casa arrendada pelos jovens só estariam sete pessoas e que sabia terem ocorrido praxes naquele fim de semana de 15 de dezembro de 2013.
O estudante disse ainda que até falou com dois dos jovens que já lá estavam, quando foi levar a namorada no sábado à tarde - um deles o sobrevivente, João Gouveia.
"Estou sem palavras. O João contou-me que apenas viu duas jovens quando foi levar a Catarina e que até a deixou (a vítima) na curva da casa. Acho estranho dizer que estavam sete pessoas. Mas ele viu-os a todos?", questionou Fernanda Cristóvão, mãe de Catarina, logo depois das declarações do jovem.
"Como é possível que o João tenha estado calado este tempo todo. Eu própria questionei-o sempre se estaria disponível para falar. Protegi-o. E agora vem prestar estas declarações sobre a minha filha? Não posso impedir que falem dela. Só lamento a forma que foi feito", frisou, admitindo que nem o próprio lhe falou de tal entrevista.
"O João só devolveu o telemóvel no dia 19 de janeiro, porque lho pedimos. O que fez ou não fez com ele, só o próprio poderá uma dia explicar. O silêncio a que eu e os restantes pais nos remetemos não voltará a ser quebrado. Faço-o hoje (sexta-feira) porque há alguém numa televisão, que por algum motivo que desconheço só tem falado com um grupo de pessoas, fez da minha filha o tema da reportagem", concluiu Fernanda Cristóvão.
Assumindo-se "defensor da praxe", João Crespo explicou à RTP que "ainda hoje" é sujeito a praxes. "Nunca me vou fartar disto", salientou. Em relação ao fato de Catarina ter dito a alguém que não estaria com grande vontade de rumar ao Meco e estar farta das praxes, o jovem presumiu que tal dever-se-ia à vítima estar num "dia menos bom".