Presidente da Metro do Porto promete reforço em toda a rede para o período de inverno e mais manutenção.
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Composições a transbordar e veículos avariados são o lado negro do metro do Porto que o novo presidente, Tiago Braga, promete afastar. A partir de setembro, haverá oferta máxima em toda a rede nas horas de ponta. Além disso, para 2021 estão previstos 18 novos veículos que também vão servir as atuais linhas. No arranque do seu mandato, a luz ao fundo do túnel aponta ainda o caminho para o 5G. O wi-fi é aposta para o próximo ano. Mais difícil de resolver será o passe família, que tarda no Porto.
Perante os avanços verificados com o Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART) e o forte aumento da procura previsto, como vai resolver a falta de carruagens?
Em maio e junho, percebemos que, tecnicamente, não há sobrelotação. Há uma ou outra situação. Precisamos de mais tempo para perceber o impacto efetivo. Mas há uma coisa curiosa. Neste período de férias, o aumento acontece fora das horas de ponta. São pessoas que iriam fazer a sua viagem para a praia de autocarro ou automóvel. O PART aumentou a amplitude de circulação. Estamos a ter todos os dias mais de 200 mil clientes.
Nos períodos de maior procura, continuamos a ver carruagens a abarrotar, em linhas como a de Fânzeres (Gondomar), com veículos simples a circular em vez de duplos. Vai reforçar o serviço?
Está programada a oferta máxima para o período de inverno em toda a rede, a partir de setembro [dia 8], no horário entre as sete e as dez e também ao final do dia. Nas horas de ponta, os veículos serão duplos. A oferta será reforçada face ao que havia no último inverno. Quanto à linha de Fânzeres, por exemplo, das sete às oito aumentamos para mais um veículo duplo (quatro em vez de três); das oito às nove, mais dois duplos (cinco em vez de três); e das nove às dez teremos mais um (quatro em vez de três). Na linha da Póvoa, para além dos veículos duplos, temos o serviço expresso.
Para quando a chegada dos 18 novos veículos? Vão servir também as atuais linhas?
Vão circular na rede toda e uma parte será injetada na linha Amarela. Vamos lançar no final do ano o concurso para o projeto da obra no término do Hospital de S. João para garantir isso. O objetivo é, ainda antes da expansão a Vila d" Este, começar a trabalhar com 15 veículos/hora. Hoje, são 11 em hora de ponta. Foi publicado o relatório preliminar do concurso para os 18 e a CRRC ficou em primeiro. Ficaria extremamente satisfeito se estivessem a circular no segundo semestre de 2021.
Está prevista uma redução do preço dos títulos ocasionais?
Neste momento, não.
Alguém que queira percorrer apenas uma estação tem de pagar sempre 1,20 euros...
Isso resulta do esquema montado regionalmente, em anéis.
Mas prevê alguma alteração?
Neste momento, não. Mas, temos vindo a pensar noutros modelos de tarifário, como a tarifa plana, única para toda a Área Metropolitana do Porto (AMP). O PART veio alterar a configuração da tarifa e hoje há duas, de 30 e de 40 euros.
É adepto de um sistema tendencialmente gratuito?
Sou adepto de um sistema tendencialmente gratuito. Porém, um serviço público, quando é totalmente gratuito, perde valor facial. As pessoas deixam de o perceber como um bem e a relação com esse bem sofre algumas alterações, há mais vandalismo, etc.
Teria, então, apenas um valor simbólico?
Pode ter uma taxa de acesso, é um pouco como o Park & Ride . No nosso plano, o alargamento deste sistema não visa garantir negócio, mas, sim, um mecanismo de proteção dos nossos clientes.
Que parques estão nesse plano?
Falamos de D. João II e Parque Maia. Queria que isso ficasse fechado no início do próximo semestre.
As avarias continuam a ser um problema. É preciso investir mais na reparação?
Já houve um esforço muito significativo de melhoria das condições de manutenção. Na parte que nos diz respeito, estamos constantemente a fazê-la. Na parte que está na subconcessão, temos feito um trabalho de interação quer com a Via Porto quer com a EMEF, dentro das ferramentas disponíveis no contrato para que a performance da EMEF melhore. Não quero ultrapassar ninguém, mas, até pelo perfil das pessoas que assumiram há pouco tempo a administração da CP, a nossa expectativa é a de que essa melhoria continue. Vai haver pedidos de maior investimento à Via Porto, que é responsável pelo contrato de subconcessão.
Tem tido apoio do seu antecessor Jorge Delgado, agora secretário de Estado das Infraestruturas?
É evidente. E é minha convicção que nunca como agora estiveram reunidas as condições para que, quer do ponto de vista do material circulante pesado, quer do ligeiro - estou a falar do desempenho da EMEF -, haja uma melhoria significativa. A tutela, e refiro-me a Jorge Delgado, tem um conhecimento muito aprofundado dos temas.
E como correm as negociações com o Ministério do Ambiente para o Plano Nacional de Investimentos de 2020-2030?
Não diria muito mais do que aquilo que o ministro já teve oportunidade de dizer: são 600 milhões de euros para a expansão, mais 200 milhões de euros para o MetroBus.
Quais são as prioridades para a nova expansão?
Não temos prioridades. Faremos um trabalho de análise de procura e entregaremos a informação à Área Metropolitana do Porto (AMP) para, em função dos seus critérios, decidir. Cá estaremos para dar o apoio necessário à tomada de decisão. O ministro já teve oportunidade de dizer que a decisão sobre a expansão será tomada pela AMP e pelos municípios.
E as obras para as linhas Amarela e Rosa vão atrasar-se?
O arranque das duas obras será entre março e abril [de 2020]. A da linha Amarela terá uma duração de dois anos e meio. A linha Rosa demorará três anos. Vamos terminar este pacote de obras em 2023.
Quando é que podemos sonhar com novas linhas?
Estão criadas condições para não haver um período tão disruptivo como houve desde a última grande fase de expansão. Não podemos estar muito tempo sem obra. Ou não haverá tempo para a executar.
Em outubro, temos eleições. Qual vai ser a primeira coisa que vai dizer ao próximo Governo?
Vou apresentar o plano existente. O metro do Porto não pode estar mais um período de 10 anos sem expansão. O território exige outra resposta. Não iremos mudar nada. Isto é independente das eleições.
Para quando wi-fi no metro?
No próximo ano será, claramente, uma aposta. Não podemos continuar a estar fora do mundo a 5G. Não faz sentido. Vai haver uma revolução. Vamos investir na inteligência artificial. Queremos, até 2023, reformular todo o parque de validadores, com ativação por voz na bilhética. Não faz sentido ter, nas novas extensões, tudo de última geração e depois no resto não. Vamos fazer a atualização de todo o sistema de validadores.
Qual o balanço do passe único?
Aumentou a procura. É um instrumento fundamental para a mobilidade de uma região. Estamos a ter um aumento de 10%. Não sei se é tudo resultante do PART.
A fraude é significativa?
Não é significativa. Mesmo quando comparada a sistemas fechados. Estamos a desenvolver instrumentos, tendo em consideração a configuração do metro do Porto e tendo a consciência de que, num sistema aberto, haverá sempre fraude. Neste momento, está decorrer um projeto-piloto.
Quanto ao passe família: já foi implementado em Lisboa, o Porto continua sem o título. Qual o motivo do atraso?
Não sei dizer se estamos atrasados sequer. Do ponto de vista técnico, não é fácil implementar o passe família. Corremos o risco de ter um nível de fraude muito grande. E não estou a dizer que as pessoas do Porto têm um comportamento mais fraudulento do que as de Lisboa. Relembro: muita gente importante e com responsabilidade foi contra a implementação do PART. Naturalmente, estarão contra o passe família.