Descida de mais de 30 metros do nível da água da albufeira do Alto Rabagão pôs a descoberto resíduos de todo o tipo. Limpeza começou ontem e envolveu 150 pessoas.
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Uma garrafa de vidro aqui, um saco de plástico ali e uma lata de sardinhas além. Espalhados nem parecem muitos. Reunidos em sacos são aos milhares. Toneladas. Estes e outros lixos estão por todo o lado na barragem do Alto Rabagão, em Montalegre. Representam o acumular de décadas de maus hábitos de locais e forasteiros, agora mais expostos pela descida de mais de 30 metros do nível da água, devido à seca.
A terceira maior albufeira do país tem 16 quilómetros de comprimento. Somando as duas margens é o dobro. Mas para lhe dar a volta de carro são cerca de 40 quilómetros. Ora, limpar todo este lixo, apenas durante o dia de ontem, era uma utopia. No entanto, as cerca de 150 pessoas que lá andaram a recolher lixo, separando-o para reciclagem, deram o pontapé de saída numa empreitada que vai ter novos episódios.
A iniciativa partiu de duas associações de Montalegre em parceria com a Câmara. "Achámos por bem dar uma prenda à primavera. Não plantámos uma árvore, mas tornámos o planeta mais limpo", explicou Albino Rebelo, presidente de Associação Recreativa e Cultural Os Amigos do Larouco, pois "o cenário na barragem do Alto Rabagão é muito mau".
A ideia da ação de limpeza que começou às 9 horas de ontem, dividida por quatro zonas, surgiu num dia em que João Vasques, presidente do Clube Trepa Monte, andava, com outros amantes dos desportos de aventura motorizados, a fazer a marcação de um raide todo-o-terreno. "De repente começámos a deparar-nos com lixo espalhado por toda a barragem". E isto já aconteceu antes da pandemia, ainda a barragem não tinha tão pouca água como agora.
"Turistas e pescadores"
João Vasques gostaria de ver também envolvidos os "turistas e pescadores" que contribuíram para esta situação, pois está convencido que "eles são responsáveis por pelo menos 70% do lixo que aqui está". "Latas de conservas, garrafas de cerveja, material de pesca, guarda-sóis, cadeiras e muito plástico" são alguns exemplos. "Nem com 500 pessoas a trabalhar um dia inteiro conseguiríamos recolher tudo", frisa o presidente da Trepa Monte.
O vice-presidente da Câmara, David Teixeira, entende que esta ação de limpeza é a "parte positiva" de uma situação de abaixamento do nível da água que "nunca se imaginou". Por um lado, "permitiu conhecer como era a paisagem antes de ser inundada com a construção da barragem" e, por outro, "estabelecer esta missão de limpeza de toneladas de sujidade".
O objetivo é que esta jornada também sirva para sensibilizar as pessoas a terem comportamentos mais amigos do ambiente. "Tanto os locais como os visitantes", nota David Teixeira. Para alcançar melhor as pretensões, também foram envolvidas as freguesias que se situam à volta da albufeira, outras associações e clubes, bombeiros, escuteiros.
"Sextas Verdes" para poupar combustível
A Câmara de Montalegre está a implementar as "Sextas Verdes". É um dia em que a frota municipal fica parada com o objetivo de poupar combustível. Tendo em conta os preços a que chegaram, esta é uma forma de promover a poupança. Como diz o presidente Orlando Alves, "o desequilíbrio orçamental, que virá do consumo regular de combustíveis, tem de ser combatido". Com os carros parados, os funcionários estão a ser envolvidos, por exemplo, em ações de limpeza e outras iniciativas que não envolvam a utilização de viaturas.
Pormenores
Portas de entrada
A revelação de tanto lixo na barragem do Alto Rabagão criou a consciência de que é preciso "criar portas de entrada na albufeira", diz David Teixeira, bem como implementar regras apertadas para os visitantes.
Vinte centímetros
Desde que foi proibida a produção de energia elétrica na barragem do Alto Rabagão, em fevereiro deste ano, devido à grave situação de seca que o país atravessa, o nível da água só subiu 20 centímetros.