Cumpriu-se nesta quarta-feira mais uma greve parcial à porta da sede da empresa, em Matosinhos, depois de três ações em novembro e dezembro do ano passado. Está prevista nova paralisação no dia 27.
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Depois de terem reclamado do Estado a compra de matérias-primas, a demissão da administração e a reversão do processo de reprivatização em curso, os trabalhadores da Efacec juntaram os aumentos salariais à sua luta. Cumpriram mais uma greve de duas horas, à porta da empresa, em Leça do Balio, e voltarão a fazê-lo na próxima quarta-feira, caso não obtenham respostas satisfatórias.
"As reivindicações estão na mesa da administração. Eles dizem que não vão atribuir aumentos salariais, dizem que vão fazer uns ajustes. Mas o que nós sabemos é que são ajustes que criam discriminação", referiu ao JN Sérgio Sales, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte. Acredita que os ajustes vão deixar de fora muitos trabalhadores, "principalmente a camada operária".
Quanto à reprivatização em curso, o dirigente sindical alega que "a melhor garantia da manutenção dos postos de trabalho e da sustentação da empresa seria a permanência no setor empresarial do Estado". Entende que haverá "um lesar do interesse público, porque a Efacec é uma empresa que tem um capital humano com grande potencial de desenvolvimento e havia todo o interesse em que pudesse estar nas mãos do Estado".
Isto, apesar das críticas que aponta ao Governo: "O Estado português negligenciou a compra de matéria-prima. A empresa trabalha aos arranques, a maior parte das secções praticamente não labora, os trabalhadores começam a vir trabalhar sem saber o que é que vêm fazer e isso cria angústia e instabilidade no seio familiar também".
Quanto à demissão da administração, também reclamada, Sérgio Sales refere que a mesma "tem demonstrado falta de transparência em todos os processos e tem uma atitude persecutória dos trabalhadores". Acrescenta, a propósito: "É uma coisa muito agressiva e antidemocrática o dia a dia destes trabalhadores. Eles próprios têm receio de dar a cara porque sabem que, quando entrarem lá dentro, são perseguidos das mais variadas formas". Uma acusação deixada a propósito da participação nas greves e manifestações.
Empresa com forte perfil exportador e presente em 65 países, a Efacec dedica-se aos setores da energia, mobilidade e ambiente. Questionada pelo JN em relação às reivindicações, enviou-nos um comunicado em que começa por referir que tem sempre presente "a justa remuneração e retenção de todos os trabalhadores, que são o maior ativo".
Refuta a acusação de ter atitudes persecutórias, ao referir que "respeita o direito à greve". Por outro lado, "a Efacec respeita integralmente os compromissos assumidos no âmbito da negociação coletiva de trabalho", lê-se ainda na nota.
O processo de reprivatização está já na fase final. Em 2020, o Estado procedeu à apropriação pública, por via da nacionalização, da participação social detida pela Winterfell 2 Limited na Efacec, na sequência do escândalo "Luanda Leaks" e da saída da empresária Isabel dos Santos (filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos) da esfera acionista da empresa.
Após a publicação de uma resolução do Conselho de Ministros, a 25 de fevereiro, a Parpública anunciou em finais de março a venda da referida participação, que é de 71,73%, à DST, uma empresa de Braga da área da engenharia e construção.
A este propósito, o comunicado conclui: "O anúncio da conclusão da terceira fase do processo de reprivatização, no final de fevereiro de 2022, com a seleção do comprador, associado às medidas de capitalização da Efacec previstas, às competências dos seus trabalhadores e à confiança dos nossos clientes e parceiros, assinala o início de um novo ciclo da Efacec, que a tornará mais sustentável e competitiva".