<p>Já não há luto, nem choro, nem revolta. Sobram lágrimas de emoção. Os restos mortais de um soldado morto na Guiné, há 36 anos, foram, ontem, domingo, a enterrar na sua terra natal, Sá, em Valpaços. A família sente-se aliviada.</p>
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"Já o cá temos connosco!". Fernando Machado acena que sim, agradece as palavras. Tem as mãos ocupadas para abraços efusivos. Com uma segura o guarda-chuva, com a outra agarra o ombro do pai. Nunca o larga. "Não tenho palavras, muito obrigado!", repete a quem vai passando e se dirige a ele. O pai mal consegue falar. E quando o tenta fazer, caiem-lhe lágrimas pelo rosto. A mãe quis dar "um beijinho no caixão".
Ontem, 36 anos depois, a família do furriel José Carlos Machado, de Sá, Valpaços, enterrou, finalmente, no cemitério local o filho. José morreu na guerra, na Guiné, a 25 de Maio de 1973. Estava a fazer reabastecimento a um aquartelamento quando uma granada atingiu o edifício. Morreu juntamente com outros colegas. A notícia chegou a Sá através de um telefonema para o posto público. "Lembro-me que andávamos a tirar ervas numa terra de batatas. Foram-me chamar, mas eu nunca pensei que fosse isso".
Fernando Machado, irmão se José Carlos, tinha, então, 20 anos. O irmão 22. Ontem, no final do enterro, que teve honras militares, não escondia a emoção. "É muito emocionante ver aqui amigos dele e meus. Sinto orgulho e regozijo-me por ele estar aqui. Aqui sei que está num lugar protegido e onde é respeitado. Lá estava num terreno sem qualquer vedação, passavam animais...".
O processo de trasladação do corpo foi longo e teve intervenção directa da Liga de Combatentes.