Condutores de tuk-tuk no Porto começam a ter mais trabalho e acreditam que a situação melhorará até ao final do ano.
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Fábio Faria tem o auricular sem fios colocado, sorriso fácil, o "tuque" da "Tuking People/Douro Acima" impecavelmente limpo à espera de turistas ávidos por conhecer a cidade e uma espera pela frente, junto à Torre dos Clérigos, no Porto. "As coisas estão a melhorar, já não ficamos tanto tempo a olhar para o lado", avalia, otimista.
Dois confinamentos, um deles cumprido em férias e outro em lay-off, e a sucessão de dias de trabalho em serviços mínimos forçados pela falta de clientes garantem-lhe perspetiva. A filha Valentina, nascida no verão do ano passado, adoçou o tempo em casa. "O melhor da pandemia foi estar dez meses com a minha filha", conta. Fátima, a mulher, ficou em lay-off após a licença de maternidade. "Estive em casa 14 meses", contabiliza a lojista, de 24 anos.
Fábio começou nos tuk-tuks no verão de há cinco anos, nas férias do emprego numa fábrica de madeira industrial, em Gondomar. "Tinha 21 anos e pensei fazer o verão. No primeiro dia, nem cheguei a aprender a conduzir, porque os horários estavam lotados. Havia demasiados turistas", lembra.
Para ficar a trabalhar no inverno desse ano, Fábio Faria teve de dedicar-se ao francês. Italiano "aprendeu de arrasto", hoje fala espanhol e gostava de estudar alemão. "Aprendi em casa, a fazer traduções e nos tours básicos, a ouvir os turistas a falar e a fazer perguntas", explica o animador turístico que gosta de encantar estrangeiros com histórias do Porto.
Carros são sensíveis
Ricardo Almeida começou a trabalhar numa grande empresa de tuk-tuks elétricos há quatro anos. Artista plástico, com duas exposições individuais em Miguel Bombarda, em 2016, tinha antes trabalhado como designer gráfico, e dado aulas. Foi através de uma amiga que trabalhava no turismo que experimentou conduzir tuk-tuks. "Comecei a estudar a história do Porto e de Portugal e história de Arte, de que gosto particularmente", recorda.
Ao fim de ano e meio, percebeu que podia trabalhar por conta própria e comprou em segunda mão um tuk-tuk a combustão. "Correu muito bem! 2018 foi um ano de crescimento e 2019 foi ainda melhor", conta. Estava embalado para 2020, que prometia ser o ano de todos os recordes do turismo no Porto e para o qual tinha reservas a partir de janeiro, geralmente uma época de pouco trabalho.
Apanhado pela pandemia, voltou às artes plásticas: "Fiz trabalhos como designer gráfico e o apoio do Turismo de Portugal foi fundamental", diz, explicando que os "tuques" são carros sensíveis que exigem manutenção atenta.
Com algumas marcações neste verão, mantém a expectativa de melhorar as contas. Para já, nota alterações no perfil de quem viaja: "Aparecem mais turistas de última da hora e pessoas que viajam sozinhas".
relação melhorou
A relação com os moradores da zona histórica melhorou nos últimos cinco anos. A regulamentação da atividade pela Câmara, por um lado, e o trabalho de relações públicas dos condutores de "tuks", por outro, normalizaram a convivência. "A relação tem vindo a melhorar. Cedo sempre passagem", partilha Fábio Faria.
"Compreendo os moradores... A rua é o pátio dos miúdos", diz Ricardo, explicando que evita viagens a determinados locais: "Prefiro andar por outros sítios e depois, no final, dar indicações de como podem conhecer a pé a zona da Vitória".