De mochila às costas, a família Kleinknecht desce a Rua dos Clérigos de bicicleta. São alemães, recém-chegados ao Porto, após uma viagem alternada entre comboio e autocarro.
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Uta e o marido começaram a planear as férias antes de rebentar a pandemia, que acabou por deixar durante uns meses em suspenso a vontade do casal de visitar com os filhos a cidade que conheceram há cerca de 30 anos, quando ainda eram estudantes.
A escassos metros, perto da Avenida dos Aliados, caminham as amigas Marta Antolinez e Cristina Gomes. Vieram de Espanha, tal como a família de Julia Gonzalez, para desfrutar de uns dias de descanso. Já Francisco Veríssimo chegou à Invicta vindo de França, onde vive desde tenra idade.
Pelas ruas do Porto, já se ouvem outras línguas e os locais turísticos começam a ganhar mais movimento. É o caso da Livraria Lello, onde a fila para visitar o emblemático edifício já se outra vez forma na rua. Francisco Veríssimo é um dos que aguardam vez. "Já estivemos aqui cinco vezes e, como a fila estava sempre muito grande, acabávamos por ir embora", conta, acompanhado pela mulher, pelos filhos e amigos.
"A situação está melhor aqui do que em França. Não temos medo de apanhar o vírus em Portugal. É mais seguro", diz Francisco.
O sentimento de segurança é partilhado por Marta Antolinez. "Achamos o Porto seguro. Estamos próximas de Espanha, podemos ir e vir facilmente e aqui há poucos casos de contágio", afirma a jovem de 28 anos que, juntamente com a amiga, Cristina Gomes, optou por alugar um apartamento para os quatro dias de férias.
"Escolhemos por ter mais serviços e não ser só um quarto e uma cama. É verdade que temos menos contacto com outras pessoas, mas não foi esse o principal motivo", explicou Cristina Gomes, admitindo que evitam multidões.
"expressão reduzida"
"Não vamos a sítios com muita gente, mas também não há muita gente. Nunca nos sentimos incómodas", constata a turista.
Ainda sem dados para o mês de julho, o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) adiantou ao JN que, em maio, a quebra no setor rondou os 97%. Ressalvando que ainda há hotéis de portas fechadas, Luís Pedro Martins estima que, em agosto, a taxa média de ocupação hoteleira na cidade ronde os 30%.
"Já começam a chegar, de facto, mais turistas, nomeadamente muitos nacionais e, nestes últimos quinze dias de julho, também turistas espanhóis, alguns franceses, alemães e brasileiros. Mas nunca na expressão que aconteceria por esta altura. É uma expressão muito reduzida ainda", sublinhou o líder do TPNP.
Na Ribeira, Julia Gonzalez prepara-se para cruzar o rio Douro e conhecer as caves de vinho do Porto. Não é a primeira vez na cidade e confessa que esperava encontrar mais gente nas ruas. "Quando entramos nos sítios desinfetamos as mãos e, como não há muita gente, conseguimos manter a distância", frisou a jovem.
Para os Kleinknecht, o objetivo é evitar "sítios com muita gente". Por isso, a aposta recai em atividades ao ar livre. "Já estivemos na praia e conseguimos manter a distância das outras pessoas. Não achamos que fosse arriscado", conta Uta Kleinknecht.
Com a retoma dos turistas, na Azeitoneira do Porto, a esperança é tentar "chegar ao fim do ano e não ter prejuízo". "Maio foi um desastre, junho igual e agora julho está um bocadinho melhor, principalmente, a segunda quinzena", disse o dono, Luís Faria.
No que toca ao setor do turismo, Luís Pedro Martins acredita que "vai continuar a ser um ano duro". "Mas também sou otimista a achar que, a exemplo do que o turismo fez noutras grandes crises, passada a crise financeira, nós iremos registar bons números", defendeu, sublinhando a necessidade de apoiar as empresas do setor.