<p>Há anos que os três observam, com o vagar que a reforma lhes permite, o pulsar do centro turístico da capital da Madeira. </p>
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Ontem aproveitando o dia soalheiro que sobreveio à tempestade que matou, no sábado, pelo menos 42 pessoas, lá estavam, abancados na floreira que delimita a concorrida esplanada do restaurante Apolo, na Rua de Dr. António José d'Almeida, próximo da Sé do Funchal. Ao fundo da artéria, a Avenida do Mar, sobranceira ao Atlântico, continua interdita.
Fé na bondade de Lisboa
"O comércio já começou a funcionar, e agora estou em crer que isto vai para a frente", alvitra João Alves, bancário reformado, na sapiência dos 69 anos. O companheiro de cavaqueira, José Nunes, agora a viver do amealhado por décadas na Venezuela, mostra fé na bondade governamental de Lisboa.
"Os apoios hão-de chegar. E os cruzeiros também. Nessa altura, vai ser tudo como dantes. Já se notam os turistas", diz o reformado de 76 anos.
José Ferreira, que regressou de África do Sul com os joelhos desfeitos pelo trabalho e pecúlio suficiente para a folga contemplativa aos 63 anos, concorda. "Só é pena o mercado ainda não ter aberto, por causa do peixe", diz.
O mercado está do outro lado da praça, na zona mais fustigada pelas enxurradas e ainda intransitável. Vinod, Louise e a curiosa Liliana-Rose, bebé de seis meses, confirmam as anotações. Fazem parte desses turistas tão desejados que alimentam o centro funchalense ignorando a tragédia que o acometeu.
"Chegámos na sexta-feira e ainda não tínhamos vindo à baixa da cidade", diz Vinod. "Disseram-nos no hotel que não o devíamos fazer por estar tudo destruído, mas não parece nada", espanta-se o londrino, que ainda não passou ao lado destruído da cidade. Provavelemente, não o fará.
Falta-lhe a curiosidade e sobram-lhe os atractivos, como a casa de "souvenires" mais antiga da ilha, a Axel Rasmussen, fundada em 1921 na Rua de João Tavira. No meio de bordados, trajes típicos e canecas de gosto duvidoso, o gerente José Manuel Pereira garante: "Eles, os turistas, hão-de voltar. Estão a voltar, hoje já se notou", disse.
"Eles vêm com o sol". Ontem, foi dia de ele brilhar, finalmente.