É uma casa longe de casa, onde a dor se acalma no aconchego da família. Pela casa Ronald McDonald do Porto já passaram quase 700 famílias. O espaço garante todas as comodidades, de forma gratuita, aos familiares das crianças internadas ou em tratamento no Hospital S. João e no IPO que, vivendo longe, precisam de um lugar onde ficar.
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A pandemia não travou o apoio, mas obrigou a implementar alterações.
Foi elaborado um plano com quatro níveis de ocupação, cuja implementação acompanha a situação epidemiológica do país. Dentro da casa, os horários de confeção das refeições foram desfasados e as visitas limitadas. À entrada, há máscaras, álcool-gel e um medidor de temperatura.
A Fundação Infantil Ronald McDonald conta ainda com uma casa em Lisboa. O espaço, atualmente encerrado para remodelação, deve reabrir no início do próximo ano. Em obras está também o Espaço Familiar, área diurna de apoio às famílias. Olhando para o futuro, Gonçalo Martins Barata garante que a fundação está "atenta às necessidades".
"Fora de Lisboa e Porto existe um segundo nível de hospitais, os regionais, que também apresentam condições deficientes de apoio a pais. Estamos a fazer um levantamento de necessidades para hierarquizar qual será a nossa próxima aposta. No entanto, sendo hospitais regionais, acolhem população residente. Logo, o conceito de casa diurna fará mais sentido", adiantou o responsável.
Fafe: "Há amizades que ainda duram"
José Martins conhece bem os cantos à casa. Tem 17 anos e regressou em outubro, após ter sido diagnosticado com um tumor na cabeça, a mesma situação que há sete anos o fez pisar pela primeira vez a casa Ronald McDonald. Na altura tinha dez anos e foi uma dor de cabeça a alertar a mãe, Fernanda Martins, que algo não estava bem. A história repetiu-se este ano. No entanto, quando as dores de cabeça voltaram a surgir, a possibilidade de ser um novo cancro estava longe dos pensamentos de Fernanda.
A viver em Fafe, foi na casa Ronald McDonald que encontraram um segundo lar. Para a família Martins, o espaço representa bem mais do que uma cama e roupa lavada. "É como se estivéssemos mesmo em casa. Em aconchego. Sair do hospital e entrar aqui é levar uma lufada de ar fresco, um renovar de forças. As energias que esta casa nos traz são muito boas. Temos os nossos anjos, há sempre uma palavra amiga", contou Fernanda Martins.
Na memória, o filho ainda guarda os tempos de meninice passados na casa. Numa das paredes, há um quadro com a sua fotografia em criança. Pouco mudou desde então. "Lembro-me de estar a ver televisão ou a jogar. Há amizades que ainda duram", disse o jovem.
Ponte de Lima: "Isto agora é a nossa casa"
Carla Castelo e o marido, Joel Teixeira, encontraram na casa um lar que lhes permite estar próximos do filho, atualmente internado na neonatologia do Hospital de S. João. São de Ponte de Lima e há menos de um mês deram as boas-vindas ao Tomás. A gravidez, planeada e muito desejada, correu dentro da normalidade até à ecografia do segundo trimestre, quando foi detetado um problema no coração do bebé.
Carla Castelo passou a ser seguida no S. João, onde Tomás nasceu a 18 de novembro. Desde então, já foi operado. Está estável e internado na neonatologia. Foi por lá que uma assistente social lhe deu a conhecer a obra Ronald McDonald.
Ainda internada devido ao parto, foi o marido quem ficou encarregue das mudanças. Na bagagem, até ao Porto vieram roupas para os pais e coisas para o bebé. "Isto agora é a nossa casa. Temos aqui tudo", observa Carla. Todos os dias, durante a manhã, é o marido quem está ao lado do Tomás. À tarde, trocam. Pelo meio, há que confecionar as refeições e tratar da roupa. Tudo como se estivessem em casa.
Guimarães: Encurtou as distâncias
Se não fosse o alojamento da Fundação Infantil Ronald McDonald, Isabel Araújo teria de percorrer diariamente os cerca de 50 quilómetros que separam o Hospital de S. João, onde o filho bebé está internado, e Guimarães, onde vive. Primeiro, para conseguir dar assistência ao filho mais velho, Francisco. Depois, porque ficar num hotel ou arrendar um espaço no Porto seria " muito dispendioso". Na casa foi possível conciliar as duas coisas. O "check-in" foi feito há cerca de dois meses, após Isabel ter dado à luz Miguel, que nasceu com um problema cardíaco.
Os dias são passados entre idas ao hospital e as tarefas na casa. O filho Francisco junta-se à mãe nas interrupções letivas. Aliás, recentemente, celebrou o seu sétimo aniversário dentro de casa. Houve bolo e "muitos miminhos". "Tornaram o dia dele especial. Esta casa conseguiu fazer com que a distância se encurtasse", disse Isabel.
Na casa, entre as famílias, multiplica-se o apoio e a partilha. "Há sempre uma família que faz um bolo e partilha. Vamos fazendo amizades e, ao mesmo tempo, conhecendo outras histórias", concluiu Isabel Araújo.
Apontamentos
3700 famílias
Pelas duas Casas Ronald McDonald, em Lisboa e no Porto, e pelo Espaço Familiar já passaram mais de 3700 famílias, de vários pontos do país, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira.