Principal via urbana de Aveiro esteve três anos em obras. Tem mais área para pessoas e menos para carros. Já atraiu comércio e restauração.
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A "nova" Avenida Dr. Lourenço Peixinho, em Aveiro, está concluída e pronta para que dela usufruam em toda a plenitude. Nos últimos dias, fizeram-se os derradeiros ajustes. No sábado, é inaugurada a obra, que teve início em julho de 2020. Após um investimento de 4,5 milhões de euros, Ribau Esteves, presidente da Câmara, garante que as expectativas "foram claramente alcançadas". E sente-se com missão cumprida ao olhar para a avenida que idealizou: com mais área dedicada aos peões e menos aos automóveis.
Há um facto inegável para quem conhecia a Avenida Dr. Lourenço Peixinho antes da requalificação: agora há mais gente a circular nos passeios - que foram alargados - e mais comércio e restauração a abrir. Ribau Esteves não esconde, aliás, que era esse um dos objetivos da empreitada. "Além do investimento no espaço público, que é muito importante, também queríamos revitalizar a avenida no espaço privado. E uma coisa induz a outra. Desde que anunciámos a obra, há uma procura enorme pela avenida. Houve um investimento brutal na dimensão residencial e comercial, com a chegada de novas lojas, que estavam noutros sítios, inclusive em centros comerciais, e quiseram vir para aqui", ressalva o presidente da Autarquia.
A Dr. Lourenço Peixinho tem quase um quilómetro de extensão, desde a "rotunda das Pontes" até à estação dos comboios. E, durante as obras, foi dividida em oito zonas distintas, que foram intervencionadas à vez, para manter a circulação nas restantes. Só esta semana foi aberto ao público o último troço.
Os passeios têm, agora, mais de cinco metros de largura. Há novas árvores - maioritariamente da espécie gingko biloba - em toda a avenida. Em cada sentido, só existe uma faixa para automóveis e outra que é partilhada por transportes públicos e por velocípedes. E os semáforos foram substituídos por rotundas, que facilitam a inversão de sentido de marcha.
Além disso, os pisos foram renovados, a iluminação pública também, e os contentores do lixo substituídos por "moloks" - que têm a maior parte da capacidade de armazenamento em profundidade. Também toda a rede de águas pluviais e de distribuição de água ao domicílio - esta última paga pela Águas da Região de Aveiro - foi renovada.
Avenida-praça sem passadeiras
Uma das maiores novidades da Avenida encontra-se, no entanto, numa das extremidades. Entre as "Pontes" e até pouco depois do edifício do antigo Banco de Portugal, foi criada uma zona de coexistência, apelidada de Avenida-Praça. Ali, automóveis e peões podem circular, com "prioridade para quem anda a pé", sublinha Ribau Esteves. Não há passadeiras: os peões podem atravessar onde quiserem.
"As pessoas ainda tiveram poucas oportunidades de aprender a lidar com este sinal, que foi uma das últimas alterações ao Código da Estrada, e muitas ainda não perceberam o que aqui se passa. Mas é um processo de aprendizagem", acredita Ribau Esteves.
Este sábado, a Avenida-Praça receberá o primeiro de vários eventos que para ali estão pensados. A circulação de automóveis será totalmente impedida e, entre as 10 e as 23 horas, haverá um palco com espetáculos a acontecer. O evento que marca a inauguração chama-se "Open City - Edição Open Avenue" e leva também a outros pontos da Avenida, ao longo do dia, demonstrações artísticas, como espetáculos de videomapping, música, dança e teatro.
Mais trânsito: "não é verdade"
Desde que a maior parte das zonas da avenida foi reaberta ao trânsito, não tardaram a cair, principalmente nas redes sociais, queixas de munícipes relativas à fluidez de trânsito, acompanhadas de fotografias com engarrafamentos. Ribau Esteves, no entanto, desvaloriza-as e é perentório: "Analisando vários fatores, não é verdade que hoje haja mais problemas de tráfego. Apenas é verdade que houve situações da obra que provocaram mais constrangimentos, em determinadas alturas, e que vamos continuar a ter, até ao fim da obra do Rossio, constrangimentos na zona das "Pontes", que prejudicam o trânsito naquela ponta da Avenida".
O autarca sublinha, aliás, que a requalificação da Dr.Lourenço Peixinho teve como objetivo claro "ter um efeito dissuasor" para os automóveis, com passadeiras sobrelevadas, lombas e limitação de velocidade. "Pedimos mesmo a quem não precisa de vir de carro para a avenida, que não venha", apela Ribau Esteves. Até porque, como faz questão de frisar, a aposta foi "numa avenida mais do peão". E porque já tinham feitas obras, noutras zonas da cidade - como a Avenida D. António Francisco dos Santos, na zona nascente da estação de comboios -, para retirar tráfego da Dr. Lourenço Peixinho.
Por resolver, a estragar a pintura de uma avenida totalmente de cara lavada, continua um prédio inacabado, há vários anos, deixado ao abandono. "Tenho a maior mágoa nesse processo. Mas, desde 2019, com a revisão do PDM, da parte da Câmara estão criadas todas as condições para se resolver o problema. Só que há uma litigância judicial, entre o antigo e o novo dono do prédio. Eu próprio tentei mediá-la, sem sucesso. Por isso, seguiram para tribunal. Pode demorar uma semana ou 10 anos", lamenta Ribau Esteves.
Dois estádios de calçada portuguesa
Foi utilizada calçada portuguesa numa área de 19300 m2, área equivalente a dois campos de futebol, em zonas que agora têm pisos modernizados, mas com símbolos de base marítima, tal como os que existiam na "antiga" Avenida.
Pormenores
13821 arbustos
No total, a Dr. Lourenço Peixinho conta com 13821 arbustos plantados. A esses juntam-se 162 árvores, na sua maioria da espécie gingko biloba - "a árvore do Mundo que mais fixa carbono por metro quadrado de folha", ressalva Ribau. E foram colocadas 106 peças de mobiliário urbano.
24 km de tubagem
É mais do que ir e vir ao final da Avenida 12 vezes. Foram utilizados 24 quilómetros de tubagens para proceder à obra, que incluiu novas redes de águas pluviais, por exemplo. E, também, 5120 metros de manilhas.
10 toneladas de ferro
Ao JN, a Câmara revelou que foram utilizadas 9,5 toneladas de ferro, 160 m3 de cimento e betão, 13 100 m3 de areia e 27 200 m3 de brita.
Nacionalidades
Ao longo dos quase três anos de empreitada, dezenas de trabalhadores, de quatro empresas, trabalharam na renovação da Avenida. Os mesmos são, maioritariamente, de nacionalidade portuguesa, mas também angolana, indiana e brasileira.