Afonso Ventura encontrou, há dias, notas dobradas no chão. Só que, em vez de metê-las ao bolso, procurou o dono legítimo: afixou um aviso, no café, a dar conta do achado. Aconteceu em Amoreira da Gândara, Anadia, e não é caso único.
Corpo do artigo
"Encontrei as notas aqui, na rua, ao pé do café. Tenho-as na carteira, dobradas, tal como as encontrei. Fiz um aviso e ainda ninguém as reclamou", contou Afonso Ventura, 68 anos, ao JN. O último homem de uma longa fila encostada ao balcão do Café Amoreirense tem um ar tímido, mas garante que nunca lhe passou pela cabeça guardar o dinheiro para si, sem antes tentar descobrir o desafortunado que o deixou cair.
Quanto ao montante encontrado, é significativo, mas Afonso Ventura prefere não o especificar, para que, caso apareça alguém, possa provar que perdeu o dinheiro.
"Nos dias de hoje, não é fácil aparecerem pessoas destas", diz, alto, o dono do café, apontando para Afonso Ventura. "Chama-se a isso pessoas à antiga", completa Amaro Ambrósio.
Há cerca de uma década, ele mesmo protagonizou um episódio semelhante, ao devolver 400 contos (2000 euros) esquecidos no passeio, junto ao estabelecimento, a um homem. Às primeiras horas da madrugada, estava Amaro a encerrar o café quando viu o molho de notas caído no chão. Logo o associou ao proprietário de um posto de combustível conhecido. "Fui levar-lhe o dinheiro a casa, às três da manhã, e prezo-me disso", conta. "Ele ainda me deu pneus novos para o automóvel".
Entrando naquele café, em Amoreira da Gândara, fica a impressão de que se perde dinheiro a toda a hora. E, mais surpreendente: que as pessoas são incapazes de se apoderarem dele. Ainda há outra história, mais recente. Tem que ver com a nota de 20 euros que espreita de uma prateleira, atrás do balcão. Está à espera que quem ficou com a carteira mais leve volte. Amaro conta: "Um cliente encontrou a nota no chão e deu-ma para pôr ali". Para ele, esta diferença no gesto tem explicação simples: "É uma terra de gente honesta".