Equipa de enfermagem desloca-se numa carrinha para prestar cuidados primários. Desde dezembro de 2020, já fez mais de cinco mil atendimentos.
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Etelvina Domingues, de 81 anos, foi a primeira a chegar, acompanhada pela "amiga e vizinha" Maria Vieira, de 65, ao lugar do Souto, na aldeia de Montaria, para ser atendida na Unidade Móvel de Saúde de Viana do Castelo. Um serviço promovido pela Câmara Municipal, em parceria com a Cruz Vermelha (Centro Humanitário do Alto Minho), desde dezembro de 2020. E que continua na estrada, tendo sido reforçado este ano com mais apoio, para contentamento da população mais idosa.
O rosto afogueado e risonho de Etelvina sobressai do lenço preto, que lhe rodeia a cabeça. Maria pergunta: "Como é, "Telvina", queres ir primeiro?". Mas a viúva [há seis meses] de bochechas rosadas, responde-lhe: "Não, vai tu".
Os enfermeiros José Correia, de 23 anos, e Dalila Araújo, de 28, dentro da carrinha, medem a tensão arterial à vizinha. Está um pouco alta. Cá fora, Etelvina, comenta: "Já é costume, a tensão e o colesterol". Mas quando chega a sua vez, tem uma surpresa.
"Ai hoje devo estar muito nervosa. Deixei a máquina a lavar ontem à noite. Hoje pela manhã, estava a piscar e a porta não abre. Fui pôr a televisão, não me dá voz [sem som]. Encrencou tudo", conta à dupla de enfermeiros, que a acarinha.
"O seu filho não vai lá a casa hoje?", pergunta José, que tem posto fixo na Unidade Móvel e já a conhece bem. Tal como à maioria dos utentes do serviço, que desde dezembro 2020 percorre as 24 freguesias de Viana do Castelo. A "Telvina", o enfermeiro também pergunta se está melhor das frieiras, diz-lhe que "os níveis de açúcar estão bons", e pede-lhe para "na próxima visita trazer as análises e exames" que fez recentemente, por recomendação do médico de família.
Acompanhada por rebanho
A carrinha vai com maior frequência (de duas em duas semanas) às aldeias de montanha: Montaria, Carvoeiro, Vilar de Murteda, Meixedo e Nogueira.
Faz em média "15 a 16 atendimentos por dia", segundo José Correia, que coordena o projeto.
"O público-alvo, no fundo, é a população idosa, porque é a que tem mais limitações. Físicas e de transporte. Somos um complemento aos centros de saúde", explica, apontando para o chão. "Está a ver a carrinha toda suja? As pessoas vêm do campo. Há bocado veio uma senhora com o rebanho", conta.
A equipa de enfermagem avalia sinais vitais, faz pensos, administra injetáveis, e faz aconselhamento relacionado com medicação e alimentação. "Nestas freguesias, as pessoas gostam muito de enchidos, dessas comidas, muito à base do porco, e de prato cheio. Nós vamos ensinando a reduzirem devagar", comenta Dalila.
A Unidade Móvel, do projeto Saúde + próxima, tem utentes "residentes", que comparecem sempre. "Acabamos por ser, muitas vezes, elementos da família deles. Na freguesia de Meixedo, por exemplo, temos utentes que nos tratam por sobrinhos", conclui José Correia.
Projeto
5057 atendimentos realizados, entre dezembro de 2020 e o final de 2022. No primeiro ano, 2090 em 132 dias de atividade, e 2941 no segundo, em 187.
Sessões temáticas
O projeto integra sessões dinamizadas por um profissional de saúde sobre diferentes temas no âmbito da promoção da saúde e dos estilos de vida saudáveis. Estas desenvolvem-se nas freguesias do concelho.