Alunos autistas e com necessidades especiais de Valença e Melgaço têm o apoio de que necessitam sem terem de se deslocar à sede da Fundação AMA, em Viana do Castelo
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Aprender a brincar
A Unidade Móvel Terapêutica da AMA, que intervém junto da população escolar, é considerada “o projeto perfeito” por Olinda Sousa, diretora do Agrupamento de Escolas de Valença, onde “cerca de 1%” dos 1766 alunos são autistas. “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha”, resume. “Sentíamos esta necessidade, face às grandes perturbações e problemas que os nossos alunos, que estão identificados, apresentavam. Nós, escolas, temos os recursos muito limitados, apesar de termos uma equipa multidisciplinar de apoio à educação inclusiva”.
António Ferreira, adjunto de Direção e responsável pela educação inclusiva, adianta que, “durante alguns anos, havia três, quatro alunos com perturbação do espectro do autismo. Nos últimos dois ou três anos, têm vindo a aumentar. Neste momento, temos cinco alunos no Pré-Escolar, nove no 1.° Ciclo, dois no 2.° e mais um com autismo leve e outro no Secundário”, descreve, indicando que, dos 18, “sete são imigrantes, seis de origem brasileira e um argentino”. A “maior consciencialização” de professores, pais e da Saúde leva a que haja mais diagnósticos.
Gabriel é um entusiasta da carrinha da AMA, que já visitou seis vezes. “Sai sempre com um sorriso na cara”, afirma a psicóloga Luísa Serafim. “Fazemos desenhos, jogos. Hoje estivemos a trabalhar as emoções e os números”, conta a psicóloga, enquanto o Gabriel brinca com um puzzle com cubos coloridos, que, ao serem ajustados, constroem várias frutas. Num piscar de olhos, monta uma maçã e pede para montar a banana. A pedido da psicóloga, levanta-se e mostra ao JN os seus dois desenhos, mas depressa regressa ao lugar para apostar na montagem do ananás. “Agora vai querer montar todas”, sorri a terapeuta, que lembra a pertinência deste projeto, que responde a muitas necessidades e à grande dificuldade das famílias chegarem à fundação, “principalmente devido à distância”. Ao trabalharem nas escolas, os terapeutas também estão mais próximos dos professores e dos auxiliares que acompanham estas crianças e jovens.
Gabriel pede atenção. “A pera, que rápido!”, exclama a terapeuta, enquanto o aluno fala por cima a pedir a laranja. “Esta é uma perturbação que tem de se trabalhar em diversas áreas, nomeadamente comunicação, interação social, questões de comportamento e emocionais”, explica, voltando de novo a atenção para o novo feito do menino, que já está a reclamar pelo limão. O jogo termina em segundos. “(Li)mão! (Aca) bou!”, sentencia Gabriel.